terça-feira, novembro 14, 2006

Ainda a cor da pele, desta vez em Portugal

Fico virado do avesso quando, e aqui em Portugal isso é mais do que comum, africano é sinónimo de negro e angolano é sinónimo de empregado da construção civil ou de mulher da limpeza. Dir-me-ão que não é uma questão de racismo mas, talvez, de ignorância. Na melhor das hipóteses admito que seja uma simbiose das duas.
De qualquer modo chateia ver (e chateia que se farta!), por exemplo, alguma Comunicação Social, supostamente nada racista e intelectualmente válida, a confundir a estrada da Beira com a beira da estrada.

Estou farto de, entre dois eventuais autores – um negro e outro branco - de um qualquer crime, o suspeito principal ser sempre o negro. Estou farto dos discursos e das práticas racistas que, depois de tantos anos de democracia, associam a população negra a toda a criminalidade.

Para além de os dados estatísticos da população prisional portuguesa não permitirem tão leviana conclusão, os problemas devem ser analisados não em função da cor mas sobretudo da realidade social, económica, política e cultural em que se inserem.

Curiosamente, a dita Imprensa de referência em Portugal só agora descobriu (mais vale tarde...) que, por exemplo, há angolanos que são brancos. Levou tempo...

Por alguma razão Portugal está na cauda Europa e, com a sua manifesta mas não assumida ignorância, contribui para que Angola (por exemplo) esteja (ainda esteja) no estado em que se encontra.

Ao passar a imagem de que africanos só são negros, de que os culpados são quase sempre negros, Portugal corre o sério risco de arcar com o rótulo de – para além de último descolonizador – ser um país racista. E se não é... às vezes parece.

Mas, em Angola passa-se algo de semelhante. Em Portugal sou angolano, em Angola sou português. Ou seja, esteja onde estiver nunca sou o que, de facto e de alma, sou: Angolano.

Quando digo, e digo sempre que posso, que sou angolano (branco por circunstâncias que nada têm de opção pessoal...), não o faço por inferioridade de qualquer tipo nem por superioridade de qualquer espécie. Digo-o porque o sou e o sinto, sem que isso constitua uma maior ou menor valia.

Será difícil entender isso?

E, já agora, continuo sem perceber (será também racismo? Será ignorância?) a razão que leva a Comunicação Social portuguesa a dar mais importância ao que se passa numa qualquer comunidade que nunca ouviu falar de Portugal e da qual os portugueses nada sabem, do que aos países africanos, ditos irmãos, que estão mesmo aqui ao dobrar da esquina.

3 comentários:

Anónimo disse...

E pensava eu que era o único que não percebia a posição da comunicação social portuguesa escrita, falada e televisiva. Fico, assim, mais descansado porque já não é um problema meu mas, claramente, daqueles que para contarem ainda precisam de se descalçar para contar acima de dez.
Mas talvez não sejam só deles.
E, meu caro, Orlando Castro, honestamente já não me preocupo se num sítio sou português e noutro angolano porque há algo que por muito que falem ou estrabuchem sou ANGOLANO!!!
Kandandu
Eugénio Almeida

Anónimo disse...

A propósito desta história do racismo cá e lá, dizia em comentário a outro post que ele existe, e aproveito para continuar essa resposta.

Infelizmente o racismo existe.
Por falta de cultura, por falta de principios, por oportunismo, por desespero... as razões são muitas, mas ele existe.

Trinta anos depois da liberdade em Portugal e da independência em Angola cá e lá ele continua a existir.

É importante lutar contra ele ? Claro que é.
É importante educar contr ele ? Claro que é.

Mas o mais importante é não ceder...

Ao contrário do Orlando de Castro, eu em Angola não me sinto português, porque não admito que me tratem como tal. Que isso incomoda muita gente, lá isso é verdade... Mas que querem ? Eles que se incomodem, que eu não estou para isso.

A verdade é que nunca ninguém (em Angola) ousou afrontar a minha angolanidade. Se calhar pelas costas fazem-no... Mas isso não me incomoda.

Incomodar-me-ia se em qualquer quimbo o fizessem, se na Maianga, no Catambor, no Bairro Operário ou no Quilamba Quiaxi o fizessem. Mas até agora nunca aconteceu.

Portanto, que querem... sou Angolano em Angola, mesmo que isso entristeça os racistas de plantão.

Anónimo disse...

Meu caro Orlando,companheiro,

Despreocupa-Te relativamente àquilo que algumas pessoas( não gente com capacidade intelectual e urbana suficiente)dizem sobre o facto de (não) seres angolano.

Porquê? Porque penso que Tens coisas mais importantes para fazer e dar atenção, mormente a Angola, a Lusofonia e à Comunicação social.

As pessoas que põem em causa a Tua angolanidade não Te conhecem como eu, felizmente, tenho (espero continuar a ter) o privilégio de te conhecer.

Tais pessoas, julgo, que tais pessoas dizem isso simplesmente para abusar, chatear, azucrinar.

Por isso, acho que tais pessoas, que se julgam mais angolanos que os outros, são imerecedoras da Tua respeitável atenção.

Será que as tais pessoas não sabem que Tu és um dos únicos, se não mesmo o único,jornalistas que em Portugal se tem batido pela angolanidade e pela angolanitude em vários fóruns e que, em muitos casos, tens sofrido retaliações pelo facto de defenderes a bandeira de Angola e dos angolanos?

Será que não sabem que tens o cordão umbilical enterrado na segunda maior cidade angolana, então Nova Lisboa, hoje Huambo?

Não quererão, as pessoas que põem em causa a tua angolanidade, querer apenas, como o pretendem que o façamos no NL,que arreies o mastro e recolhas a vela da luta pela lusófonia e, em particular, pela paz (social) em Angola?

Sou, por isso, a aconselhar as pessoas,algumas pessoas, (que não fazem e não querem deixar fazer) que se preocupem com os deputados à Assembleia Nacional, órgão de soberania, que têm dupla nacionalidade (é vê-los a sacarem do passaporte português quando aterram no Aeroporto da Portela, em Lisboa).

Destarte, e para terminar, uma pergunta:será que alguém já questionou, algum dia, o facto de Eduardo dos Santos, presidente em exercício da República de Angola, ter nacionalidade brasileira?

Jorge Eurico