quarta-feira, dezembro 13, 2006

“Genocídio” da Língua Portuguesa

A notícia vem-nos de Osnabrück, na Alemanha. É que por ali houve, na semana passada, uma reunião “terrível”. Um deputado da Oposição, para o caso o sr. Carlos Gonçalves, que já foi secretário de Estado das Comunidades, e o sr. Conselheiro Nelson Rodrigues abordaram, juntamente com mais alguns elementos, a situação que classificaram, desde logo, “dramática” do ensino de Português naquela cidade da Baixa Saxónia. É que, pelos vistos, em fins de Novembro, há 60 crianças ainda sem aulas. A responsabilidade caberia ao Ministério da Educação que, pelos vistos, não sabe dar uma resposta adequada.

Por Fernando Cruz Gomes
Sol Português

O conselheiro Nelson Rodrigues diz que “esta situação é inaceitavel”. Os representantes dos pais estão igualmente indignados, insistindo numa permissa que muitos esquecem: é que os seus filhos têm direito a ter aulas. Verdade. Dura.

Para já, parta-se do princípio de que o Governo Português ‑ este e os que o antecederam ‑ deveriam, de facto, ser acusados de "genocídio linguístico", para não falarmos, até, em "genocídio cultural". "Genocídio", aqui e além, com laivos de discriminação atroz e com consequências gravíssimas para os povos que se deviam entender pela Língua.

Como temos vindo a apontar, mesmo em “Sol Português”, se atentarmos nos montes de milhares de contos que o Governo Português ‑ este ou os outros ‑ atiram para os países da Europa onde há comunidades portuguesas e traçarmos um paralelo com os montantes que se atribuem aos países fora da Europa ‑ Canadá, Venezuela, África do Sul, Estados Unidos, entre outros ‑ veremos logo as tais discriminações de que tanto se fala e ninguém é capaz de calar. É que, de facto, os Governos de Lisboa parecem apostados em preservar, para a Língua e para a Cultura Portuguesas, as comunidades portuguesas que vivem na Europa, esquecendo as comunidades que vivem no resto do mundo.

De quando em vez, surgem visitas ministeriais ou de parlamentares. E, depois disso, para além de palavras que se ouvem e lêem, nada mais acontece. Ou melhor, acontece um "macaquear" de soluções que o não são. Acentuam os parlamentares em causa ‑ sobretudo os que estão na mesa do Poder ‑ que vão tentar fazer parcerias com os Governos locais (americano e canadiano e, decerto, os outros) para que o ensino de Português seja feito nas Escolas locais.

Pois...! Eles sabem ‑ e se não sabem deveriam saber ‑ que os Governos do Canadá (onde o ensino é de âmbito Provincial) e dos Estados Unidos da América têm outras prioridades.

E que, por muito que se lhes diga que um aluno esclarecido... é um cidadão útil e de peso, ninguém lhes poderá dizer que devem injectar mais dinheiro no sistema educacional para ensinar uma Língua diferente do Inglês e do Francês. No Canadá, há até a particularidade de haver mais umas quantas dezenas de outras Línguas que também teriam de ser ensinadas.

Ao longo dos tempos, e com a falta de dinheiro e, especialmente, de vontade de estudar os problemas que se põem ao ensino de Português, o Governo de Lisboa vai matando essa mesma Língua.

Os luso‑descendentes que ainda a falam ‑ ainda que estropiada e com "nuances" muito "sui generis" ‑ são aqueles a quem os pais quase obrigaram. São aqueles com os quais os pais gastaram rios de dinheiro. Sim, porque o Pai‑Governo ‑ neste caso, Padrasto‑Governo ‑ não dá um tostão, nem que seja para um livro. Não manda um professor nem que seja para fazer um curso de reciclagem aos que por cá estão.

Pratica "genocídio" de Língua. Faz guerra de "terra queimada" para que, daqui a 50 anos, os tais luso‑descendentes falem o Inglês e o Francês, o Espanhol e talvez o Afrikander. O Português... esse foi‑se perdendo! O que já teria acontecido, não fosse a boa vontade (e o gastar de dinheiro) dos pais de tantos meninos que deveriam ser, para esse efeito, iguais aos meninos de outros pais portugueses que vivem na França ou na Alemanha.

Por isso, respeitamos a reunião de Onasbruck, na Alemanha. Mas... por cá, estamos piores. Muito piores. E já nem protestamos.

Não. Algo está, de facto, mal. E para mim que, de longe, vou anotando o que se faz na Europa e nos países de língua oficial portuguesa (Angola, Moçambique, Timor, etc), fico a procurar nos dicionários que tenho uma palavra mais doce do que "genocídio" para explicar o descaso que o Governo Português faz das comunidades portuguesas espalhadas por este resto do mundo... Mas, de facto, não encontro!

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