quinta-feira, janeiro 04, 2007

Kassange: 10 mil mortos? Algumas centenas?

O AngoNotícias, tendo como fonte a LAC, escreve hoje que “no dia 4 de Janeiro de 1961, mais de 10 mil agricultores da ex-Companhia de Algodão de Angola (Cotonang), foram assassinados pelo exército colonial português na Baixa de Kassange...” A AngolaPress diz, sobre o mesmo assunto, que “foram mortos centenas de camponeses” http://www.angop.ao/noticia.asp?ID=499236. Será que são tantas as centenas que no cômputo final chegam aos 10 mil? Ou será que ninguém quer falar verdade sobre o assunto?

Verdade é que camponeses foram massacrados pelo Exército português. Mas porque será que a agência de notícias oficial de Angola fala em centenas e o portal de notícias, semioficial, mantém, o número que, do ponto de vista da propaganda, sempre foi utilizado pelo regime, os tais 10 mil?

Acredito que ninguém saiba, ao certo, quantas foram as vítimas do massacre. Creio, contudo, que o Governo português (mais do que o angolano) tem dados que possam trazer algum rigor histórico ao caso. Lisboa prestaria um bom serviço se, de uma vez por todas, revelasse ao fim de 46 anos os dados que tem.

Não adianta, para bem dos dois povos, fazer de conta e deixar que tudo continue no reino da especulação e da propaganda. Os arquivos militares portugueses devem ter algo mais concreto sobre o que se passou e, por isso, impõe-se que esses arquivos sejam tornados públicos.

A História dos dois povos, seja ela qual for, não pode continuar a ser escrita ao sabor do que dá mais jeito. Tem de ser escrita com base na verdade ou, na falta desta, tão perto dela quanto possível.

E se Angola merece esse esclarecimento, todos os outros países lusófonos onde Portugal impôs a razão da força merecem que, agora pela força da razão, se conte a verdade. Só ela pode curar as feridas. Curar definitivamente.

6 comentários:

Anónimo disse...

e NAPALM, Portugal tinha mesmo bombas de napalm ?
Napalm para quê - não faz sentido senão mostrar que não é agua...
estou também a procurar mais informações !

Konrad

Anónimo disse...

Não sei se o comentarista anterior está a brincar ou escreveu a sério.
Se é a segunda versão, pemita-me caro Orlando que esclareça o senhor Konrad que Portugal tinha, pelo menos em Angola, napalm, e que as via passar entre o quartel onde se procedia à manutenção e guarda de material - salvo erro era o ASMA - e o aeroporto e outras vezes entre Belas e o mesmo aeroporto.
Quanto a Kassange, repito e reafirmo o que já escrevi no ano passado; sublinhando, tal como já o fez recentemente Carlos Narciso, que era altura de Portugal abrir o "segredo" aos académicos, historiadores e politólogos.
Talvez que se acabasse com "as centenas" ou "os milhares"; Portugal e os serviços administrativos de empresa belga que empregava os trabalhadores angolanos, a maioria, e para que conste, eram do sul de Angola: os chamados contratados!
Um grande kandandu
Eugénio Costa Almeida

Anónimo disse...

Pela terceira vez arrisco um comentário a este post. Espero, agora, ser bem sucedido...

O massacre da Baixa de Cassange - assunto que me é particularmente caro, até porque acalento, desde a juventude, a ideia de escrever uma novela a partir do ponto de vista de um algodoeiro que viveu aqueles terríveis acontecimentos - aconteceu, independentemente da quantificação do número de mortos.

Portugal teve aí um papel activo e usou, efectivamente, bombas de napalm. Numa edição da defunta "Grande Reportagem", uma investigação assinada pelo actual director da revista "Visão" realinha a história e entrevista quem comandou militarmente a operação, além de demonstrar, por "A" mais "B", a utilização de napalm por parte de Portugal, muito antes, portanto, de os Estados Unidos da América fazerem o mesmo no Vietname.

Quanto aos arquivos militares sei, por experiência, que eles estão disponíveis. Desde que haja paciência para ultrapassar a burocracia castrense e tempo para gastar nos canhenhos cheios de pó e memória.

Anónimo disse...

Agradeço ao Elcalmeida e ao viajante pelas ruas da armagura -numa delas anda também eu a procura de sabedoria, com muitos esforços mas poucos resultados..- porque eu não conheci nada sobre Kassange.

Mas o quê e um Kandandu ??
Ralf (Konrad)

Anónimo disse...

Caro Konrad

Kandandu significa Abraço (saudação de amizade).

Alírio Camposana disse...

Tenha respeito pelo exército português. O primeiros homens, as primeiras companhias e o Exército Português de um modo geral, não eram facínoras, pense na importante intervenção social que fizeram junto das populações indígenas, ou será que isso não representa um "furo jornalístico"? Então e os que derramaram o seu sangue cumprindo ordens? Deve, agora a sua memória ser arrastada pela lama?
Eles foram homens imbuídos do mais elevado patriotismo. Se acidentes houve, eles foram isso mesmo, acidentes. Ordens não se discutem - cumprem-se! Guerra é guerra. O pretos também não cometeram atrocidades, está esquecido dos massacres às fazendas do norte de Angola? Ou pensa que essas pessoas eram uns nobres revolucionários?
As primeiras companhias, nomeadamente a 4ª Companhia de Caçadores Especiais, presente no Cassange, honrou a bandeira da Pátria, nada mais. Tem mesmo alguns nomes gravados no Memorial aos Ex-Combatentes em Lisboa, meu caro. Deveria investigar o "Inferno de Quibaba" e perceber de que tipo de homens estamos a falar, entreviste o Senhor Professor Adriano Moreira e talvez o Senhor Professor lhe ensine algo que desconhece acerca de patriotismo.Ele condecorou homens ensanguentando as suas mãos de sangue de Portugal, meu caro!
Uma vez mais, tenham respeito!
A. Camposana (filho do sargento Camposana da 4ª CCE)