sábado, fevereiro 23, 2008

Angola está muito mais pobre

Joaquim Pinto de Andrade e Gentil Ferreira Viana, dois "históricos" do MPLA e protagonistas do movimento dissidente Revolta Activa, morreram hoje, em Luanda e Lisboa, respectivamente.

Joaquim Pinto de Andrade, nascido em 1926, morreu vítima de doença prolongada, na sua residência do Bairro Azul, em Luanda.

Gentil Viana, 72 anos, que residia há mais de três décadas em Portugal, faleceu também vítima de doença prolongada, em Lisboa, onde se encontrava hospitalizado.

Os dois "históricos" hoje falecidos estiveram entre os impulsionadores da tendência política Revolta Activa, no seio do MPLA, em que participaram também o irmão de Joaquim Pinto de Andrade, Mário - primeiro presidente do MPLA -, Carlos "Liceu" Vieira Dias, Maria do Céu Carmo Reis e outros intelectuais angolanos.

Esta tendência contestatária da liderança de Agostinho Neto procurava afirmar-se como "independente, plural, não engajada com nenhum dos blocos" em disputa em Angola no pós independência.

Com a Revolta Activa afirmava-se então no MPLA a "Revolta de Leste", liderada por Daniel Chipenda, além do grupo leal a Neto.

Em 1975, juntamente com muitos outros intelectuais do MPLA, Gentil Viana é preso e só dois anos depois conseguiria a liberdade.

Numa luta na prisão foi ferido com gravidade num olho, tendo ficado praticamente cego de uma vista.

Questionado sobre o seu destino de eleição, Viana acaba por se decidir por Portugal, onde se tinha licenciado em Direito nos anos 60, e mais tarde fugido - com outros intelectuais como o moçambicano Joaquim Chissano e o escritor Pepetela - para iniciar um longo périplo que o levaria a Paris, Gana, Congo Brazzaville, Argélia, China, e mais tarde para a guerrilha em Angola.

Divorciado de uma professora universitária moçambicana residente em Portugal, Gentil Ferreira Viana foi pai de cinco filhos, dois dos quais já falecidos e os outros três residentes em Angola.

Neto de um português, Viana voltou a Angola por duas vezes, depois de se estabelecer em Lisboa em 1977 - a primeira logo após os Acordos de Bicesse (1991) e a última há poucos anos.

O corpo de Gentil Viana ficará em câmara ardente na Casa de Angola, em Lisboa, a partir das 16:00 de domingo.

Na segunda-feira, o féretro segue para Luanda, cidade natal do político angolano, onde será sepultado.

A vida de Gentil Viana cruza-se, em vários momentos, com a de Joaquim Pinto de Andrade.

O seu pai - Frederico Viana, filho de um português - e Pinto de Andrade "pai" foram ambos fundadores da Liga Nacional Africana, movimento político que nos anos 40 e 50 se afirmou como impulsionador da identidade africana nas então colónias.

Também pelos calabouços angolanos passou Joaquim Pinto de Andrade, presidente honorário do MPLA, que se manteve até há pouco tempo activo na política angolana.

Esteve ligado ao "fugaz" Partido Reformador Democrático (PRD), que obteve um resultado pouco expressivo nas eleições de 1992.

Foi durante umas férias em Portugal, em meados dos anos 90, que adoeceu com gravidade, tendo desde então passado longos períodos hospitalizado.

Ainda jovem, abraçou o sacerdócio católico, que abandonou mais tarde para se casar com Vitória Almeida e Sousa, médica pediatra; tiveram dois filhos.

1 comentário:

AGRY disse...

Recomendo-te que visites o blog Koluki
http://koluki.blogspot.com/2008/02/joaquim-pinto-de-andrade-e-gentil-viana.html

do que conheço da autora, é uma pessoa culta e merecedora de toda a credibilidade. A sua postagem terá a ver com o rigor e os afectos em relação aos compatriotas lá mencionados
Abraço