terça-feira, fevereiro 12, 2008

Perguntem ao Povo. Ele sabe o que quer

Há seis anos, quanto questionada sobre as linhas do desenvolvimento mais aconselháveis para Timor-Leste até 2020, a população timorense elencou educação, saúde, agricultura, economia, estradas e combate à pobreza.

Os resultados do estudo foram então, Março de 2002, formalmente entregues ao chefe do governo, Mari Alkatiri, pelo presidente da Comissão Consultiva da Sociedade Civil para o Desenvolvimento, Xanana Gusmão.

O relatório revelava que 70% dos timorenses destaca a educação como a maior prioridade, 49% aponta a saúde como outra das prioridades e 32,5% destacam a importância da agricultura.

"Queremos educação para que todos, incluindo os mais pobres, os deficientes, os idosos e as mulheres possam ser letrados e ajudar a construir o nosso país", lia-se no relatório.

"Em 2020 já teremos clínicas bem construídas e bem equipadas com pessoal em cada suco e aldeia, com boas parteiras, dando assistência a todos e, especialmente, às mulheres e crianças", defenderam alguns dos timorenses.

Economia (30,5%), estradas (22,1%), combate à pobreza (18,19%) e serviços de água e electricidade (respectivamente 16,1% e 12,9%) eram outras prioridades definidas.

Apenas um por cento dos consultados apontou a religião, a cultura, o turismo, os transportes, a juventude, os idosos e as mulheres como prioridade.

Falando na cerimónia de entrega do relatório, Xanana Gusmão destacou a natureza "histórica" do processo de consulta à população, que acabou por produzir um documento "notável" que traduz "a voz do povo de Timor-Leste" e que permitirá apoiar o governo a traçar as estratégias de desenvolvimento.

"As visões e as aspirações serão tomadas em conta nos programas do estado. Não queremos criar expectativas falsas mas sabemos que o governo incluirá estas sugestões nas suas estratégias", disse Xanana Gusmão.

"Tudo o que se tem feito é ouvir o povo, auscultar o povo. Quando se decidiu criar a Comissão Nacional do Plano desde logo se decidiu criar a vertente da sociedade civil", disse Alkatiri.

Mari Alkatiri garantiu então que o Governo "não se acomodará aos sofás" e que continuará a apostar na construção do Estado, "não só do espaço físico mas fundamentalmente do povo".

Traçando objectivos para a governação, Mari Alkatiri disse na altura poder garantir que "em 2020 não teremos analfabetos (...) e qualquer criança irá para a escola com pequeno-almoço, almoço e jantar".

O relatório destacava algumas das declarações dos participantes nos vários campos de desenvolvimento, com alguns a defenderem "formação, tecnologia moderna e boa irrigação" para conseguir melhorar a produção agrícola do país. Uma aposta "numa economia forte e estável", num país com "um bom sistema de estradas e pontes", e onde "ninguém tenha que lutar para sobreviver", são outras das metas que a população defende.

"Toda a gente poderá beber água e ter saneamento" até 2020, altura em que "toda a gente terá acesso a electricidade a preços razoáveis, para que as crianças possam estudar com luz eléctrica e toda a gente possa ter acesso a informação através dos meios de comunicação electrónicos", lê-se ainda entre as opiniões veiculadas.

Nessa mesma altura um outro estudo revelava que mais de 41% da população timorense vivia na pobreza e cerca de 48% eram iletrados, sendo que o índice de pobreza era mais elevado nas zonas rurais - onde atinge os 46% - do que nas zonas urbanas, onde afecta cerca de 26% dos habitantes.

O centro e o leste rurais de Timor-Leste eram as regiões que registavam os índices mais elevados de pobreza, cerca de 51% da população, com as duas maiores cidades, Díli e Baucau, a registarem os valores mais baixos, que rondam os 14%.

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