sexta-feira, março 28, 2008

RTP, Governo, Oposição e similares
(quase tudo farinha do mesmo saco)

O director de Informação da RTP refutou hoje as acusações do deputado social-democrata Agostinho Branquinho de favorecimento do Governo no Telejornal de quarta-feira, sustentando que a entrevista ao ministro das Finanças foi "trabalho jornalístico e não propaganda".

Numa carta dirigida ao director de Informação da RTP, José Alberto Carvalho, o deputado Agostinho Branquinho afirma, reportando-se ao Telejornal de quarta-feira da RTP1, cujo tema de abertura foi a anunciada descida do IVA, que o tempo utilizado por "um membro do Governo foi largamente superior" ao dos partidos da oposição, nomeadamente o PSD.

"Entendeu a RTP convidar para uma entrevista em directo e no estúdio do Telejornal o Senhor ministro das Finanças e ouvir vários agentes políticos e o Senhor governador do Banco de Portugal", escreve Agostinho Branquinho, acrescentando que "o espaço temporal ocupado pelo Governo foi largamente superior ao da oposição e ao do seu principal partido - o PSD".

Reagindo, em declarações à Agência Lusa, às afirmações do deputado com a pasta da Comunicação Social, o director de Informação da RTP, José Alberto Carvalho, sustentou que "quem assiste à entrevista vê trabalho jornalístico, não vê propaganda".

Bom. Cada um vê o que (mais) lhe interessa. Além disso, os critérios editoriais quando bem seguidos e preparados por bons profissionais conseguem, sem dificuldade, transformar uma peça de propaganda num comestível trabalho jornalístico.

Não é pelo tempo dado aos protagonistas, não é por ouvir a outra parte, não é por cruzar informação, não é por permitir o contraditório que um anúncio vira peça jornalística.

José Alberto Carvalho justificou a entrevista a Teixeira dos Santos com o facto de ter sido o Governo a anunciar a descida do Imposto de Valor Acrescentado (IVA) de 21 para 20 por cento.

"Quem toma as decisões é o Governo e são as reacções do partido que vamos ouvir?", questionou, considerando "preocupante" a "tendência para confundir tempo" de emissão "com propaganda".

Há, de facto, essa tendência. Tal como há, infelizmente cada vez mais, a tendência pala amplificar a voz dos que já têm voz, emudecendo a daqueles que a não têm. É, aceito, um tipo de jornalismo. Não é, contudo, o Jornalismo. Este trabalha para os milhões que têm pouco e não para os poucos que têm milhões.

O director da Informação da estação pública (o que quer dizer que também é paga por mim) entende que é "estranho" que o registo editorial da RTP tenha sido criticado, quando a SIC, propriedade do social-democrata Pinto Balsemão, "fez a mesma opção".

Aqui se vê como é fácil confundir a estrada da Beira com a beira da estrada. Não se contesta a opção nem a oportunidade. Estranha-se é a forma como se pretende vender gato por lebre... deixando o rabo de fora.

José Alberto Carvalho adiantou ter manifestado ao deputado Agostinho Branquinho "disponibilidade para uma reunião", embora "não lhe pareça razoável discutir o alinhamento de telejornais com políticos".

É claro que não se deve discutir o alinhamento editorial com políticos, sejam eles do Governo ou da Oposição. Numa estação pública o Governo, seja ele qual for, não precisa de discutir seja o que for já que, convenhamos, lá tem as suas pessoas de confiança e que nunca irão cuspir no prato que lhes dá comida.

Quanto às acusações de "comportamento reiterado da RTP face ao PSD", o director de Informação da televisão pública indicou que as mesmas "foram desmentidas pelos factos" em pareceres da Entidade Reguladora para a Comunicação Social.

Essa não. A Entidade Reguladora para a Comunicação Social dá os pareceres que entender mas, creio, não é dona da verdade e nem sempre conhece a realidade editorial dos media.

Não me recordo (mas certamente o presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, Azeredo Lopes, fará o favor de mandar alguém informar-me caso esteja errado) de ver esta entidade, ou qualquer outra, deliberar, emitir pareceres ou opinar sobre os jornalistas que viram assessores dos políticos para depois, mudando o titular do tacho, voltarem a ser jornalistas.

É claro que, num país de brandos costumes, fica sempre bem tapar o sol com uma peneira e reagir em vez de agir. Fica bem, é fácil, é barato e dá milhões.

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