quinta-feira, abril 17, 2008

“Não” ao Acordo Ortográfico

Considero, sobretudo dada a disparidade das forças em confronto, que a minha luta pelo português de Portugal está condenada à derrota. Apesar disso, continuo a entender que só é derrotado quem desiste de lutar. Ora desistir é algo que me recuso a fazer, mesmo sabendo que do outro lado está uma força monumentalmente maior em todos os aspectos, sobretudo no número de falantes.

Sou, portanto, contra o Acordo Ortográfico. Admito, quando muito, que se deixe que sejam o tempo e os protagonistas a transformar a língua, a dar-lhe eventualmente diferente grafia, tal como acontece com a introdução de novos termos.

É claro que existem letras que, no português de Portugal, podem ser suprimidas sem que venha grande mal ao mundo. Mesmo assim, também não viria grande mal ao mundo se o meu Bilhete de Identidade disse que eu nasci no “uambo”. Mas a verdade é que eu nasci no “Huambo”.

Se o sapato português já foi «çapato» e a farmácia foi «pharmácia», é bem possível que, de forma natural, também o facto passe a fato. Mas a forma natural é deixar a língua fazer a sua viagem ao logo dos anos, das décadas, dos séculos, sem as amarras que lhe querem pôr.

E o que defendo para Portugal, defendo para qualquer outro dos países lusófonos. É legítimo que os brasileiros, não só porque são especialistas em inventar palavras, mas, sobretudo, porque podem impor a razão da força dos seus muitos milhões de cidadãos, queiram neutralizar a força da razão daquela “meia dúzia” de tugas que estão nas ocidentais praias lusitanas.

Não cabe aos que defendem o português, contudo, abdicar e atirar a toalha ao tapete quando podemos ser poucos, mas podemos ser bons (sem querer dizer que os outros são maus). Creio, aliás, que a língua ainda é das poucas coisas que são verdadeiramente nossas. Tudo o resto é “made in” qualquer outro país.

Por isso, esta é para mim, uma questão de identidade e de honra que deve continuar a ter as suas próprias características, respeitando a dos outros e convivendo em sã harmonia com as diferenças.

Aliás, quando me falam de harmonização (seja do que for) cheira-me logo a algo hitleriano. Por isso, custe o que custar, não serei eu a render-me a um acordo ortográfico contra-natura e violador das diferenças que são, aliás, a grande força da Lusofonia.

Nota: Texto publicado em:

http://www.portugal-linha.pt/index.php/200212101502/Cafe-Luso/Acordo-Ortografico-sim-nao-talvez-/menu-id-109.html

4 comentários:

ELCAlmeida disse...

Meu caro, deixei no Portugal em Linha o meu comentário. Um comentário simples e pequeno. Talvez umas... 50 linhas!!!!
Kdd
EA

Anónimo disse...

Sim ao Acordo Ortográfico!

A Língua portuguesa está a passar por um período de implantação, quer nos países Africanos de Língua Portuguesa, quer em Timor Leste. Na Guiné-Bissau esteve até para ser adoptado o Francês como língua oficial e em Timor-Leste o Inglês. Daí será fácil concluir que a língua portuguesa nas nossas ex-colónias não ficou muito bem cimentada. Esses países já não são colónias portuguesas, são livres e tanto poderão seguir o português falado em Portugal, por 10 milhões de habitantes, como o português falado no Brasil, por 220 milhões.

A teoria de Darwin é mesmo verdadeira e Portugal, se teimar em não se aproximar da versão de português do Brasil sujeita-se a ficar só e, mesmo assim, não vai conseguir manter a pureza da língua porque ela evolui todos os dias, independentemente da questão que agora se nos põe: todos os dias há termos que caem em desuso e outros novos que são adoptados pela nossa língua, em especial termos ingleses que são adoptados sem quaisquer modificações.

Se não houver aproximações sucessivas ambas as versões do português continuarão a divergir e daqui a algumas gerações serão línguas completamente distintas. Será então a altura de Portugal confirmar que saiu a perder porque ficou agarrado a um tabu que não conseguiu ultrapassar.

O Brasil tem um impacto muito maior no mundo do que Portugal, dada a sua dimensão, população e poderio económico que em breve irá ter. O nosso português tem hoje algum peso muito em função dos novos países africanos PALOPs ) e de Timor Leste, mas ninguém garante que esses países não venham um dia a aproximar o seu português da versão brasileira e há até já alguns sinais nesse sentido. A população do Brasil permite altas tiragens das publicações que ficarão mais baratas e, se houver maior harmonização, as editoras portuguesas (e amanhã dos PALOPs ) poderão vender mais no Brasil.

Se Portugal permanecer imutável um dia poderá ficar só: a língua portuguesa de Portugal será então considerada uma respeitável língua antiga (o Grego é ainda mais), da qual derivou uma outra falada e escrita por centenas de milhões de habitantes neste planeta. O nosso orgulho ficar-se-á por aí e pronto!

Ambas as versões de português têm uma raiz comum e divergem há apenas cerca de 250 anos. Outros tantos anos a divergir e já não nos entenderemos, terão que ser consideradas duas línguas.

O acordo ortográfico é uma decisão apenas política que os técnicos terão depois que assimilar e seguir. Portugal nada ganhará de imediato, mas tem muito a perder no futuro se rejeitar agora o acordo que o Brasil está disposto a aceitar.



Zé da Burra o Alentejano

Anónimo disse...

Sim ao Acordo Ortográfico!

A Língua portuguesa está a passar por um período de implantação, quer nos países Africanos de Língua Portuguesa, quer em Timor Leste. Na Guiné-Bissau esteve até para ser adoptado o Francês como língua oficial e em Timor-Leste o Inglês. Daí será fácil concluir que a língua portuguesa nas nossas ex-colónias não ficou muito bem cimentada. Esses países já não são colónias portuguesas, são livres e tanto poderão seguir o português falado em Portugal, por 10 milhões de habitantes, como o português falado no Brasil, por 220 milhões.

A teoria de Darwin é mesmo verdadeira e Portugal, se teimar em não se aproximar da versão de português do Brasil sujeita-se a ficar só e, mesmo assim, não vai conseguir manter a pureza da língua porque ela evolui todos os dias, independentemente da questão que agora se nos põe: todos os dias há termos que caem em desuso e outros novos que são adoptados pela nossa língua, em especial termos ingleses que são adoptados sem quaisquer modificações.

Se não houver aproximações sucessivas ambas as versões do português continuarão a divergir e daqui a algumas gerações serão línguas completamente distintas. Será então a altura de Portugal confirmar que saiu a perder porque ficou agarrado a um tabu que não conseguiu ultrapassar.

O Brasil tem um impacto muito maior no mundo do que Portugal, dada a sua dimensão, população e poderio económico que em breve irá ter. O nosso português tem hoje algum peso muito em função dos novos países africanos PALOPs ) e de Timor Leste, mas ninguém garante que esses países não venham um dia a aproximar o seu português da versão brasileira e há até já alguns sinais nesse sentido. A população do Brasil permite altas tiragens das publicações que ficarão mais baratas e, se houver maior harmonização, as editoras portuguesas (e amanhã dos PALOPs ) poderão vender mais no Brasil.

Se Portugal permanecer imutável um dia poderá ficar só: a língua portuguesa de Portugal será então considerada uma respeitável língua antiga (o Grego é ainda mais), da qual derivou uma outra falada e escrita por centenas de milhões de habitantes neste planeta. O nosso orgulho ficar-se-á por aí e pronto!

Ambas as versões de português têm uma raiz comum e divergem há apenas cerca de 250 anos. Outros tantos anos a divergir e já não nos entenderemos, terão que ser consideradas duas línguas.

O acordo ortográfico é uma decisão apenas política que os técnicos terão depois que assimilar e seguir. Portugal nada ganhará de imediato, mas tem muito a perder no futuro se rejeitar agora o acordo que o Brasil está disposto a aceitar.



Zé da Burra o Alentejano

Migas-o-Sapo disse...

Caro Anónimo

Concordo plenamente com a passagem do discurso que diz:

«Se não houver aproximações sucessivas ambas as versões do português continuarão a divergir e daqui a algumas gerações serão línguas completamente distintas.»

e com a outra que diz:

«Se Portugal permanecer imutável um dia poderá ficar só: a língua portuguesa de Portugal será então considerada uma respeitável língua antiga (o Grego é ainda mais), da qual derivou uma outra falada e escrita por centenas de milhões de habitantes neste planeta. O nosso orgulho ficar-se-á por aí e pronto!»

É inteiramente verdade. O problema é que esta mistura resultante dos dois idiomas resultará numa deturpação da língua portuguesa, como se ela não estivesse já muito corrompida, e eu não me refiro só em termos de léxico mas também e principalmente no que respeita ao seu funcionamento gramatical. O «orgulho» de ter muitos a falar uma amálgama bastarda é o mesmo que não ter orgulho. Mais vale uma pura pequenez que uma grande porcaria.

Já agora, resumir as vantagens do ««««Acordo»»»» a questões comerciais é demonstração de limitação intelectual, senão mental.

Comigo, ortografia do português só há uma, que é a estabelecida e regulamentada pelo diploma de 1945. Que crédito terá a nossa língua se alterarmos constantemente a nossa ortografia e sempre como uma cedência ao Brasil?

Antes analfabeto que otário.

Disse.