domingo, junho 01, 2008

Jornalista 24 horas por dia?
- O tipo está mesmo doido!

“Quando se é jornalista 24 horas no dia e 7 dias na semana e ainda se consegue ter um tempozinho para dedicar à cultura das duas, três. Ou se é doido, e parece que ele se assume alegremente como tal; ou o relógio está deliciosamente parado no tempo e na saudade da terra onde o sol castiga mais; ou então... estamos perante um Homem que só conhece uma arte: o saboroso poder da escrita!”

Esta afirmação é de Eugénio Costa Almeida (http://pululu.blogspot.com/2008/05/artoliterama.html) e foi escrita a propósito do lançamento que fiz de um outro blogue, desta vez dedicada a versos e similares.

O Eugénio volta a ter razão. Sou doido e assumo-o alegremente. Além disso, é também verdade, venero o saboroso poder da escrita, mesmo junto daqueles (e são cada vez mais) têm de se descalçar para contar até doze.

Aliás, quando em no início da década de 70 comecei a dar os primeiros passos (e, é claro, os primeiros trambolhões) nesta profissão de Jornalista (então vista, ensinada e entendida como um sacerdócio) no diário “A Província de Angola”, os dois responsáveis pela delegação do Huambo, José de Almeida e Carlos Morgado, disseram-me logo que, embora não fosse condição sine qua non, ser maluco ajudava alguma coisa.

Trata-se portanto de uma enfermidade que já vem dos tempos em que calcorreava as picadas da terra onde o sol castiga mais. A dependência do saboroso poder da escrita veio depois. Ou seja, durante os largos meses em que só tinha o especial direito de escrever sobre os buracos das ruas ou sobre os candeeiros sem lâmpadas. Nesse tempo chamava-se tarimba.

Tarimba em que aprendi que quem não vive (nesta profissão em avançado estado de putrefacção e inevitável extinção) para servir, não serve para viver. É caro que também aprendi mais meia dúzia de coisas que hoje figuram como peças de museu, local onde um dia destes será incluída oficialmente a profissão de Jornalista.

Não aprendi, contudo, aquela que hoje é a regra fundamental do “jornalismo”: ser sempre aquilo que o chefe quer que sejamos.

Quando alguém tem a lata de, como eu, dizer que não se é Jornalista sete ou oito horas por dia, a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado, só pode estar mesmo doido. Não acham?

1 comentário:

ELCAlmeida disse...

No Porto não sei se existe.
Em Lisboa, em tempos idos, havia um hospício chamado Júlio de Matos mas que parece já fechou.
Por isso, meu caro, vais ter de te curar sozinho ou, então,... terás de pegar em ti e colocares-te num Museu!
Até lá vai curtindo e saboreando alegremente a loucura e deixar os verdadeiros loucos tentarem perceber que não é dar tiros nos pés que se safam.
Só espantam! Só afastam!
kandandu
EA