segunda-feira, junho 16, 2008

A quem tem fome só interessam
as promessas que são cumpridas

O antigo secretário-geral da ONU Kofi Annan estimou hoje em 27 mil milhões de euros o montante em falta daquele que foi prometido pelos países desenvolvidos para ajudar o continente africano. Ou seja, os compromissos são para cumprir se for, por exemplo, para vender armas.

Annan revelou este número durante a apresentação do primeiro relatório do Painel para o Progresso de África (PPA), onde é feita uma análise à situação do continente africano em 2008 e analisado o cumprimento de promessas de ajuda feitas pelo G8 (grupo dos oito países mais industrializados).

Em 2005, na cimeira em Gleneagles, Escócia, os líderes do G8 (EUA, Japão, Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Canadá e Rússia) comprometeram-se a duplicar o montante concedido para o desenvolvimento em África até 2010. Pois. De promessas e boas intenções estão as valas comuns cheias.

“Mas o nosso relatório mostra que, ao actual ritmo de progresso, a promessa (...) não será cumprida”, criticou Annan, certo de que está a pregar no deserto.

A dois anos do prazo, o valor que falta para respeitar o compromisso eleva-se a 40 mil milhões de dólares (27 mil milhões de euros), calcula Kofi Annan, daí a razão do seu alerta.

“Não é coincidência que este relatório saia dias antes do Conselho Europeu (19 e 20 de Junho) e a semanas da cimeira do G8 (07-09 Julho)”, frisou. No documento hoje apresentado alerta-se para as consequências da crise alimentar no continente africano, como o aumento da fome, malnutrição e mortalidade infantil.

“Muitos países estão já a sentir um retrocesso de décadas de progresso económico e 100 milhões de pessoas estão a ser empurradas para a pobreza absoluta”, advertem os autores.

O ex-presidente do Fundo Monetário Internacional, Michel Camdessus, igualmente membro do PPA, referiu o facto de a subida dos produtos alimentares se registar ao mesmo tempo que outras crises na área energética, financeira e ambiental.

“Antes só havia uma crise de cada vez”, salienta, alertando para as “consequências tectónicas” de uma degradação das condições de vida em África, nomeadamente em termos de fluxos migratórios e segurança. Por seu lado, Kofi Annan deixou uma mensagem aos líderes europeus e do G8: “As únicas promessas que nos interessam são aquelas que são cumpridas. Muitos milhões de pessoas em África estão à espera”.

Além de Michel Camdessus e Kofi Annan - que preside ao organismo-, fazem parte do Painel o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, o músico e activista Bob Geldof e a presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC) de Moçambique, Graça Machel.

Lançado em Abril de 2007, o PPA é formado por 11 membros e inclui políticos, economistas e activistas com experiência e conhecimento sobre as questões africanas.

O prémio Nobel Muhammad Yunus, o ex-presidente africano General Olusegun Obasanjo e o fundador da organização Transparency International, Peter Eigen, são outros membros do PPA.

O PPA é o fruto da Comissão para África criada por Tony Blair, então primeiro-ministro britânico, para analisar e apresentar propostas para o desenvolvimento de África.

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