quarta-feira, julho 16, 2008

Lisboa quer mudar o tratamento da língua?
- Não. Apenas julga que somos todos burros

Mais de 240 milhões de falantes da língua portuguesa no mundo justificam a aposta do governo português na promoção e difusão da língua portuguesa no estrangeiro, através de uma nova estratégia aprovada hoje em Conselho de Ministros. Não é chover no molhado, mas é molhar o que já estava encharcado.

Distribuída pelos cinco continentes, a língua portuguesa é a terceira mais falada nos continentes africano e europeu. Novidade? Nenhuma, mas…

Além da população residente em cada um dos oito países que têm a língua portuguesa como idioma oficial - Angola (12,5 milhões de habitantes), Brasil (191,9 milhões), Cabo Verde (427 mil), Guiné-Bissau (1,5 milhões), Moçambique (21,2 milhões), Portugal (10,6 milhões), São Tomé e Príncipe (206 mil) e Timor-Leste (1,1 milhões) - mais de 5 milhões de pessoas constituem as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo.

Na listagem das línguas com maior número de falantes, o português surge entre o quinto e o sétimo lugar, conforme as tabelas consideradas, mas na Internet a sua importância é mais facilmente avaliada, sendo considerado o sétimo idioma mais divulgado.

O plano hoje aprovado pelo governo português inclui acções de promoção da língua portuguesa nos fóruns internacionais, com destaque para os principais blocos político-económicos. Creio que o executivo de José Sócrates, como aliás os anteriores, julga que descobriu a pólvora.

Estão neste caso a União Europeia, o Mercosul e a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), que garantem já versões em português dos seus sítios na Internet. Então?

Contudo, os sítios na Internet das Nações Unidas, União Africana, NATO, Programa da ONU para o Desenvolvimento (PNUD) e a União dos Estados Ibero-americanos (UEI) não apresentam a língua portuguesa como alternativa de escolha. Então?

Segundo projecções baseadas na evolução demográfica dos oito Estados que têm o português como língua oficial, deverão totalizar 335 milhões de habitantes em 2050, prevendo-se neste sentido, a consolidação da importância da língua portuguesa. Consolidação do quê?

Lá vamos ter mais umas comissões para elaborar um livro de uma qualquer cor, lá vamos ter mais uns tachos para uns tantos amigos socialistas e, é claro, vamos concluir que se vai mexer na coisa para que a coisa fique na mesma.

Em vez de valorizar o que já há e que muito tem feito pela língua, o governo de Lisboa teima em querer vender-nos o acessório e a esquecer o essencial. Vê, aliás, a questão a partir dos areópagos da macropolítica, esquecendo que a língua deve ser analisada no terreno, nem que seja debaixo de uma mulemba.

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