sexta-feira, setembro 26, 2008

Derrota para a direcção da UNITA
fez Chingunji recuperar a memória

O ministro angolano da Hotelaria e Turismo, Eduardo Jonatão Chingunji, está em alta nos círculos próximos do poder em Angola, sobretudo porque os órgãos oficiais do MPLA, como o Jornal de Angola, não se esquecem do seu alto contributo a bem da nação e em oposição, é claro, à punhalada que deu pelas costas ao partido que o colocou naquele lugar, a UNITA.

Como peixe na água, Chingunji parece acreditar (lá terá razões para isso) que o seu futuro político passa mesmo e só pelo MPLA, tantas são as benesses que, por enquanto (digo eu), o poder de Luanda lhe faculta.

Há quatro anos, certamente por ainda desconhecer as carnificinas de que foi autor o presidente fundador da UNITA, Chingunji concorreu, repare-se, à liderança da UNITA. Perdeu, mas o actual presidente, Isaías Samakuva, indicou-o para o Governo.

E, ao que parece, foi no Governo que descobriu tudo quanto de mau Jonas Savimbi fez à sua família e a outras. Foi aí que descobriu que teria de se divorciar da UNITA. Por obra do destino, o divórcio unilateral só se consumou na véspera das eleições.

Actualmente, Chingunji defende que o MPLA (partido no poder) permite "fazer política sem receios". Esta descoberta, ao estilo de um novo amor, de uma nova paixão, não abona a inteligência de Chingunji, mas certamente que abona em favor dos seus privilégios que, legitimamente, não quer perder.

Chingunji deixou a UNITA em 4 de Setembro, 24 horas antes das eleições legislativas em que o MPLA derrotou de forma esmagadora, com mais de 80%, o seu anterior partido. Era inevitável. As luzes da ribalta compraram quase tudo e quase todos. E, como acontece em todo o lado, só os malucos (há quem lhe chame coerência) teimam em ficar do lado dos que perdem, dos mais fracos.

Chingunji não cita, mas poderia citar o seu próprio exemplo. Enquanto deu, foi ministro da UNITA. Quando viu o tacho em perigo, mudou... para não desaparecer, alegando em sua defesa um manancial de factos que estavam na gaveta mas que, por obra e graça de uma coisa chamada dólares, ganharam vida.

Para o ex-membro da UNITA, a "capacidade de mudar" do MPLA justifica o seu sucesso eleitoral, ressaltando que nunca foi "tratado como inimigo", mesmo com as críticas que fez ao partido no poder. Chingunji tem razão. O MPLA só trata por inimigos aqueles que têm valor e que são do estilo de antes quebrar do que torcer. Não era, obviamente, o caso.

Fraco na memória do que não lhe interessa, Chingunji esquece que a guerra levada a cabo pela UNITA se deveu à procura de uma sociedade mais democrática e justa e que não foi nenhuma aventura de uma só pessoa, no caso Jonas Savimbi.

Dinho Chingunji disse ainda não pertencer ao partido no poder, embora se reveja na sua política, considerando-se um político angolano que ainda tem "muito para dar à nação". E tem com certeza. Todos os angolanos têm muito para dar. Sobretudo os angolanos de primeira, ou seja, os ligados ao MPLA.

E se N’zau Puna, Jorge Valentim, Fátima Roque (entre muitos outros) estão com o MPLA, é legítimo que Chingunji também esteja. O povo, digo eu, continua a perder, mas o povo é coisa menor quando está em jogo o interesse e a ambição pessoal.

Felizmente que, de forma assumida, perto de 20 por cento dos angolanos (todos os que não votaram no MPLA) ainda pensam de forma diferente.

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