quarta-feira, setembro 17, 2008

Fátima Roque será a aposta do MPLA?

Não gostei de ver, embora seja um direito que obviamente tinha e tem, a economista Fátima Roque, uma das mais importantes dirigentes da UNITA até muito recentemente, aparecer em lugar de honra, bem apanhado pela TPA, no comício de encerramento da campanha do partido que está no poder em Angola há 33 anos. Nessa altura, dia 4, escrevi: Fátima Roque no MPLA - Qual terá sido o preço?

Embora Fátima Roque garanta que não foi aliciada, continuo a pensar que o MPLA não dá ponto sem nó. «Como poderia ter sido “comprada” se não me tentaram “comprar”?», explicou a economista em entrevista ao “Novo Jornal”, salientando que “não está à venda”. Será. Mas, na minha opinião, sobretudo na política angolana, onde a ética é palavra vã, não basta ser sério, é preciso parecê-lo. E não foi o caso.

Porque foi convidada pelo MPLA, Fátima Roque foi ao comício com boné e cachecol do partido. O que terá ela pensado na altura em que alguns militantes de prestígio na UNITA se passaram para o outro lado da barricada e apareceram com boné e cachecol do MPLA? Será que defendeu a tese de que não foram comprados? Ou terá pensado, e dito, o que eu disse e escrevi?

Aceito que Fátima Roque tenha sido maltratada por alguns dos actuais dirigentes da UNITA. Acredito que isso tenha sido uma injustiça. Aconteceu com ela como com muitos outros. No entanto, muitos desses outros, embora protestando ou rasgando cartões, não passaram para o outro lado, não apareceram de boné e cachecol do MPLA. É, como dizia Jonas Savimbi, uma questão de ética que ou se tem, ou não se tem. Não há meios termos.

Dizem-me, aliás, que a presença de Fátima Roque em Angola visou a sua reconciliação com o país e com um povo que, isso é verdade, tanto ama. Mas reconcilar-se com um povo que ama através do partido que durante 33 anos tão maltratou esse mesmo povo ou, pelo menos, parte dele, parece-me no mínimo uma grotesca forma de gozar com a nossa chipala.

A reconciliação faria todo o sentido se fosse feita no seio da família. Fazê-la no seio da família vizinha pareceu-me, e assim continuo a pensar, uma forma de chamar a hiena para nos ajudar a derrotar o cão que nos ataca. Em cirsunstâncias normais, a hiena mataria o cão e depois deleitava-se a comer-nos. Não sendo isso, e pelos vistos não é, a presença de Fátima Roque no seio da família MPLA teve algum preço, mesmo que não seja monetário.

Estará reservado pelo MPLA algum alto papel político para Fátima Roque? Provavelmente.

Como todos sabemos, o MPLA não é parco nos pagamentos aos seus fiéis seguidores. Pagamento que, repito, pode não ser monetário. Será que ao dizer na entrevista ao “Novo Jornal” que “só uma mulher é capaz de puxar o comboio do desenvolvimento”, Fátima Roque estava a levantar a ponta do véu sobre a sua presença, com boné e chachecol, no comício do MPLA?

“A Fátima Roque é uma mulher determinada, é um bom quadro, sabe bem aquilo que quer, tem uma causa e luta contra tudo e contra todos quando acredita que algo vale a pena”. Quem fez esta afirmação, semelhante à que várias vezes fez dela Jonas Savimbi? Qum foi? Foi a própria Fátima Roque na referida entrevista.

Portanto... esperemos para ver.

1 comentário:

Anónimo disse...

Depois de ter ouvido o sr. Jorge Valentim apelar ao voto no partido que ferozmente combateu, com ódio, não me espanta o que fez a sra. Fátima Roque. Portanto, os dois perderam toda credibilidade, todo o respeito que lhe era devido pelas posições que tomaram no passado, em defesa de uma causa oposta à do partido que agora é para eles o salvador da pátria.

A estas duas personalidades junta-se o Bonga. Para quem não sabe, esteve no Zango, no município de Viana, (e não só) de caschecol vermelho, amarelo e preto numa festa-comício do partido que no passado fortemente contestou.

Não sou, nunca fui, nem serei da UNITA. Mas devo confessar que admiro a coerência do Mano Mais Velho (não concordo, nem nunca concordei como as com as suas ideias), lutou por aquilo em que acreditou e morreu (suicidou-se, como terá prometido em vida) de arma na mão sem se render ao inimigo, sem passar para o lado do inimigo, mesmo que esse inimigo tenha passado a ser um mero advesário político.

Faltou coerência ao Sr. Jorge Valentim, à doutora Fátima Roque e ao Bonga, aquela coerência que aquele que foi seu ídolo soube preservar até à morte.