domingo, setembro 21, 2008

Tirando o facto de a maioria
dos angolanos passar fome...

Tirando o facto de a maioria dos angolanos passar fome, tudo o resto é normal. Quintas, vivendas, bancos, empresas, meios de comunicação, etc. fazem parte do cada vez maior leque de interesses, nomeadamente em Portugal, dos poucos angolanos que têm milhões.

Tirando o facto de a maioria dos angolanos passar fome, é normal que os donos do poder (sobretudo económico) estendam as suas garras a outros países e ainda bem que consideram Portugal uma boa escolha. O reino luso a norte de Marrocos só tem a ganhar com estes investimentos. Depois de 500 anos de colonização já era tempo de ser o colonizador a ser colonizado.

Tirando o facto de a maioria dos angolanos passar fome, louvo a atitude do general “Kopelipa” que, para além de mostrar que ganha bem, não fez como outros que compram mas não dão a cara. E um milhão de euros por duas quintas no Douro até não é nada de especial.

Tirando o facto de a maioria dos angolanos passar fome, acresce que a economia portuguesa está a ficar nas mãos da economia angolana e, pelo andar do que é conhecido, um dia destes ainda vamos ter outras grandes surpresas.

Tirando o facto de a maioria dos angolanos passar fome, Portugal vai assistir ao nascimento de novas estruturas empresariais, em quase todos os sectores – incluindo os da comunicação social – de modo a que seja mais fácil aos donos do poder em Angola dizer aos escravos portugueses como devem fazer as coisas para agradar ao colono angolano.

Tirando o facto de a maioria dos angolanos passar fome, fico à espera de ver mais alguns (sim, que já há muitos) sipaios portugueses fazerem a vénia ao chefe do posto angolano porque se o não fizerem sujeitam-se a “fuba podre, peixe podre e porrada se refilarem”.

Tirando o facto de a maioria dos angolanos passar fome, até me parece normal que a ementa do almoço entre José Sócrates e Eduardo dos Santo, na altura da cimeira UE/África, tenha sdio ovos mexidos com alheira de caça, tamboril com amêijoas, legumes estufados e arroz selvagem e uma sobremesa com doce de chocolate e laranja tostada. Os vinhos servidos foram todos do Douro (ainda não das quintas de Kopelipa): Esteva branco 2005, Quinta de Lagoalva tinto 2007 e Porto.

Tirando o facto de a maioria dos angolanos passar fome, até me atrevo a sugerir uma outra ementa famosa para o próximo encontro entre Sócrates e Eduardo dos Santos: trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e uma selecção de queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, com cinco vinhos diferentes, entre os quais um Château-Grillet 2005.

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