terça-feira, setembro 09, 2008

Vitória seguinte começa na derrota anterior

«A UNITA será poder em Angola no dia em que os angolanos o quiserem. Porque a UNITA é pertença do povo angolano. No nosso país, o processo de democratização é irreversível. Ora, a alternância de poder é uma característica inerente aos sistemas democráticos,» afirmou em entrevista ao Notícias Lusófonas, publicada a 26 de Junho do 2006, Anastácio Sicato, então delegado da UNITA em Portugal, e depois ministro da Saúde de Angola.

As afirmações de Anastácio Sicato continuam actuais, sobretudo porque começa agora a travessia do deserto. Sobretudo porque é preciso ter em conta que a vitória seguinte começa na derrota anterior.

Mas, no que respeita à UNITA no exterior, nomeadamente em Portugal, urge perguntar o que poderá ser feito para tentar ser alternativa daqui a quatro anos.


Não falo de ideias. Essas não faltam. Falo de coisas concretas, de projectos viáveis, de iniciativas com cabeça, tronco e membros. Provavelmente por manifesta ignorância da minha parte, não vi a UNITA, sobretudo mas não só em Portugal, a dar o seu contributo para que os angolanos pudessem conhecer um outro Governo e um outro presidente da República.

Anastácio Sicato dizia na referida entrevista, dada ao Jornalista Jorge Eurico, que “tarde ou cedo, o MPLA e o Presidente José Eduardo dos Santos acabarão por ceder o poder a outros”.

Mas será que a UNITA está apostada em fazer com que se antecipe a alternância? Agora falhou. Não foi o MPLA que ganhou, mas foi – isso sim – a UNITA que perdeu.


Quando olho à minha volta fico com a sensação de que a UNITA está à espera que o poder em Angola caia de maduro, pouco fazendo para mostrar aos angolanos que quando o fruto não presta deve ser retirado mesmo verde.

E, como agora se viu, ou a UNITA corrige a pontaria ou corre o sério risco de nas próximas eleições ficar ao nível da FNLA.

Quando vejo que a UNITA, ao contrário do MPLA, desperdiça tantos e tantos valores que lhe são afectos e que estão espalhados por esse mundo fora, fico com a ideia de que a alternância, se acontecer, se deverá mais ou sobretudo à incapacidade do MPLA do que à acção da UNITA.

Não basta, como disse Sicato, afirmar “que a verdadeira soberania pertence ao povo e a mais ninguém”. É preciso que o povo saiba que tem esse poder e, mais importante, saiba quais são as alternativas. Nestas eleições o povo não viu qualidades alternativas e preferiu mais do mesmo.

Não chega, digo eu, dizer que “só a alternância consolida os regimes democráticos”. A alternância não se compra, conquista-se. E para a conquistar é preciso trabalhar muito. Muito mesmo.

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