domingo, março 22, 2009

Sem memória não há verdade nem futuro

Não sei se ter memória é, nos tempos que correm, uma qualidade. Creio que não. Alguém disse que quem estiver sempre a falar do passado deve perder um olho. No entanto, acrescentou que quem o esquecer deve perder os dois...

Tal como o Papa Bento XVI recordou hoje, em Luanda, perante quase um milhão de fiéis, as “consequências terríveis” dos 27 anos de guerra civil em Angola, lamentando que esta seja “uma realidade familiar”, apetece-me hoje recordar também algumas coisas.

Recordar, em homenagem às vítimas, o massacre de Luanda, perpetrado pelas forças militares e de defesa civil do MPLA, visando o aniquilamento da UNITA e cidadãos Ovimbundus e Bakongos, e que se saldou no assassinato de 50 mil angolanos, entre os quais o vice-presidente da UNITA Jeremias Kalandula Chitunda, o secretário-geral Adolosi Paulo Mango Alicerces, o representante na CCPM, Elias Salupeto Pena, e o chefe dos Serviços Administrativos em Luanda, Eliseu Sapitango Chimbili.

Recordar, em homenagem às vítimas, o massacre do Pica-Pau em que no dia 4 de Junho de 1975, perto de 300 crianças e jovens, na maioria órfãos, foram assassinados e os seus corpos mutilados pelo MPLA, no Comité de Paz da UNITA em Luanda.

Recordar, em homenagem às vítimas, o massacre da Ponte do rio Kwanza, em que no dia 12 de Julho de 1975, 700 militantes da UNITA foram barbaramente assassinados pelo MPLA, perto do Dondo (Província do Kwanza Norte), perante a passividade das forças militares portuguesas que garantiam a sua protecção.

Recordar, em homenagem às vítimas, o facto de mais de 40.000 angolanos terem sido torturados e assassinados pelo MPLA em todo o país, depois dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977, acusados de serem apoiantes de Nito Alves ou opositores ao regime.

Recordar, em homenagem às vítimas, o facto de, entre 1978 e 1986, centenas de angolanos terem sido fuzilados publicamente pelo MPLA, nas praças e estádios das cidades de Angola, uma prática iniciada no dia 3 de Dezembro de 1978 na Praça da Revolução no Lobito, com o fuzilamento de 5 patriotas e que teve o seu auge a 25 de Agosto de 1980, com o fuzilamento de 15 angolanos no Campo da Revolução em Luanda.

Recordar, em homenagem às vítimas, o facto de no dia 29 de Setembro de 1991, o MPLA ter assassinado em Malange, o secretário Provincial da UNITA naquela Província, Lourenço Pedro Makanga, a que se seguiram muitos outros na mesma cidade.

Recordar, em homenagem às vítimas, o facto de nos dias 22 e 23 de Janeiro de 1993, o MPLA ter desencadeado em Luanda a perseguição aos cidadãos angolanos Bakongos, tendo assassinato perto de 300 civis.

Recordar, em homenagem às vítimas, o facto de em Junho de 1994, a aviação do MPLA ter bombardeado e destruido a Escola de Waku Kungo (Província do Kwanza Sul), tendo morto mais de 150 crianças e professores.

Recordar, em homenagem às vítimas, o facto de entre Janeiro de 1993 e Novembro de 1994, a aviação do MPLA ter bombardeado indiscriminadamente a cidade do Huambo, a Missão Evangélica do Kaluquembe e a Missão Católica do Kuvango, tendo morto mais de 3.000 civis.

Recordar, em homenagem às vítimas, o facto de entre Abril de 1997 e Outubro de 1998, na extensão da Administração ao abrigo do protocolo de Lusaka, o MPLA ter assassinado mais de 1.200 responsáveis e dirigentes dos órgãos de Base da UNITA em todo o país.

Recordar. Recordar apenas...

3 comentários:

Didinho disse...

Caro Orlando,

A memória é que nos faz sentir capacitados numa referência à avaliação do nosso estado psíquico.
Uma memória débil, fragmentada e incapaz de reunir e rever o passado, é uma memória moribunda, em fase terminal...

A conjuntura presente demonstra-nos que o mundo esquece por conveniência, ignora por conveniência e até elogia criminosos, também por conveniência...Tudo, porque realmente, poucos conseguem exercitar as suas mentes, fazendo funcionar as suas memórias, o que equivale dizer que, poucos são os que ainda estão de saúde psiquicamente.

Não devemos permitir que se apague o passado, só porque alguns, há muito perderam suas memórias em troca de dinheiro sujo do petróleo, dos diamantes ou do narcotráfico, conforme os casos...

Vamos continuar a trabalhar!

Didinho

MV disse...

Realidades,recordar,rever por Angola

MV

Anónimo disse...

Perante estes massacres, afinal quem eram os colonialistas? quem eram os maus? quem eram os criminosos?
Claro, evidente como se pode provar pelos testemunhos escritos e da historia que foram, são e serão sempre os pretos.