segunda-feira, março 16, 2009

Tal como Angola, Cabinda também está
em assumida comunhão com Bento XVI

O padre Raul Tati, um dos protagonistas da “cisão” com a actual hierarquia na Diocese de Cabinda, teme que a visita do Papa a Angola não tenha “reflexo directo positivo” na "crise" na Igreja católica nesta província.

Raul Tati, em declarações à Agência Lusa, refere que é do conhecimento de Bento XVI, em visita ao país de 20 a 23 deste mês, que “existe uma crise na comunidade católica em Cabinda”, embora o bispo local, D. Filomeno Vieira Dias garanta que "a tensão é agora muito menor".

Para Tati, “a prova de que existem problemas” é que o núncio apostólico em Angola (potência que ocupa militarmente o território), D. Angelo Becciu, tem acompanhado “milimetricamente” tudo o que se passa na Diocese de 500 mil habitantes, 80 por cento católicos, segundo números oficiais.

O padre Tati, que a par do sacerdote Jorge Congo é uma das caras da oposição ao actual bispo, D. Filomeno Vieira Dias, salienta, no entanto, que “a comunidade católica de Cabinda reafirma a sua comunhão com o Papa, apesar da sua indignação e do seu descontentamento local”.

Porém, "quando o bispo não é aceite, tudo pode acontecer”, alerta.

O sacerdote chegou a ser vigário-geral na Diocese, cargo que abandonou quando o actual bispo chegou, em 2006, à Diocese, iniciando uma oposição a D. Filomeno Vieira Dias, sobretudo porque este representa também os interesses do potência colonizadora.

O grupo de padres católicos liderado por Tati acusa ainda o bispo de Cabinda de escassa ligação aos problemas da província e de só estar interessado em defender os interesses do Governo de Luanda no enclave.

D. Filomeno Vieira Dias reconhece que as cisões no clero em Cabinda "não estão ultrapassadas em termos absolutos", subsistindo "grupos de pessoas que permanecem na sua posição de antipatia em relação à pessoa do bispo”.

O problema persiste, “embora (os padres) digam que eu sou o bispo e que em cada diocese só há um bispo e que, sem o bispo, os fiéis não têm a ligação com a comunhão que a Igreja católica representa”, diz o prelado, acrescentando que “a realidade é de muito menor tensão”.

Também o núncio apostólico em Luanda, D. Angelo Becciu relativiza o problema de Cabinda e sublinha que a Santa Sé tem o seu representante em Cabinda, o actual bispo, a quem cabe resolver os problemas locais.

A propósito da visita do Papa a Luanda, o padre Raul Tati espera que não sejam “esquecidos os problemas” que a Igreja em Angola vive, como a “reafirmação da sua autenticidade”.

O pároco de Cabinda defende que o “compromisso profético” da Igreja deveria estar mais presente na “denúncia dos males sociais que o país enfrenta”, o que tem acontecido “muito pouco”.

“A igreja não pode passar o tempo a incensar o poder político, para estar sempre bem com o regime”, sublinha o sacerdote.

“Espero que o Papa, na perspectiva eclesial, traga um novo dinamismo” para a Igreja em Angola, que “está mais confinada aos templos paroquiais e menos ao turbilhão dos problemas sociais”, aponta Tati.

Raul Tati realça ainda a obrigação da Igreja na evangelização do mundo da política, defendendo que existem na classe política angolana católicos confessos, “a começar pelo Presidente da República”, José Eduardo dos Santos.

No entanto, Raul Tati critica a postura desses governantes, que não passam “um bom testemunho” como católicos porque “governam com a barriga e sem o coração e o resultado está à vista”.

“Penso que diante deste espectro sombrio do exercício da política em Angola era preciso que o Papa trouxesse uma palavra para o moralizar”, considera Raul Tati.

Sem comentários: