terça-feira, abril 14, 2009

Cá como lá, a verdade é crime!

O presidente do Congresso Nacional Africano (ANC), no poder na África do Sul, Jacob Zuma, pretende processar o jornal britânico “The Guardian” por difamação, noticia hoje o “The Times” de Joanesburgo. Onde é que já vi isto?

Segundo o “The Times” sul-africano, a advogada Lies Gottert, que tem a seu cargo a abertura de vários processos-crime por parte de Jacob Zuma, encontra-se em Londres a tratar dos requisitos legais para avançar com o processo-crime por difamação contra o “Guardian”.

Zuma, que já processou vários jornais e jornalistas na África do Sul por artigos e cartoons publicados ao longo dos últimos anos – particularmente por alturas do seu julgamento por alegada violação de uma amiga de família, no qual foi ilibado – teria ficado incomodado com um artigo publicado no “Guardian” sob o título “Habituem-se a uma África do Sul corrupta e caótica mas não a ignorem”.

Também não percebo como é que o jornal “The Guardian” descobriu que existe corrupção na África do Sul quando todos, até mesmo os britânicos, sabem que África é um continente onde o caos e corrupção não existem. E se dúvidas houvesse bastaria olhar, por exemplo, para o Zimbabué.

No artigo, escrito por Simon Jenkins, o presidente do ANC e candidato do partido no poder às presidenciais do dia 22 de Abril é descrito como “um líder zulu polígamo vestido de peles de leopardo”, bem como “um antigo terrorista sem escolaridade, simpatizante comunista e agitador das massas”.

Convenhamos que é uma linguagem inapropriada para a esmagadora maioria, ou até totalidade, dos líderes africanos.

A maioria dos processos-crime que Zuma abriu contra jornais locais e contra o cartoonista Zapiro – que criou uma personagem que retrata até aos dias que correm um Jacob Zuma com um chuveiro no topo da cabeça (ver imagem) depois do actual presidente do ANC ter declarado durante o seu julgamento que um duche após actos sexuais elimina o risco de transmissão do HIV – continua a correr nos tribunais sul-africanos.

O artigo que teria originado a contratação de uma equipa de advogados especializada em processos por difamação no Reino Unido refere-se a Zuma como “mais um político africano para quem o poder tem a ver com enriquecimento pessoal em vez de boa governação”, comparando as franjas extremistas do ANC que o apoiam como “hordas de rufias semelhantes aos que protegem Robert Mugabe”.

E ainda dizem que os jornalistas portugueses (os poucos que existem) são demasiado duros com alguns ditadores da lusofonia...

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