domingo, abril 26, 2009

Chafurdar na merda é uma questão de vida?

Parafraseando um editorial de 2002 (a propósito da Casa Pia), assinado pelo António Ribeiro no Notícias Lusófonas, creio que, com ou sem gripe suína, com ou sem peste suína (africana ou de qualquer outra origem), Portugal cimenta todos os dias a sua imagem de um país “feio, porco e mau”.

Nessa altura, o António Ribeiro defendia a peregrina (digo eu) tese de que deverim ser ”exemplarmente punidos todos os que nele participaram e também aqueles que, por negligência ou omissão, permitiram a continuação de tais práticas durante mais de duas décadas.”

Será que os portugueses acreditam que vai haver justiça em casos como a Casa Pia, Free Port, BPN, BPP etc. onde são cada vez mais notórias as certezas de que os protagonistas são todos farinha do mesmo saco?

Não. Não acreditam. E não acreitam porque cada vez mais se comprova que os protagonistas são uma corja de gente feia, suína e má. E isso aplica-se quer aos que em tempo útil se calaram, quer aos que, hoje, se deixaram comprar.

Serem muitos os portugueses feios, porcos e maus parece algo que está no sangue, salvo algumas (muito poucas) excepções. Tão poucas que até os Jornalistas que agora falam do assunto Free Port (entre outros) vão, como o foram os que no início da década de 80 avançaram no caso Casa Pia, ficar calados.

E esse silêncio será recompensado. É só uma questão de tempo. Não tardará muito e estarão como directores ou administradores de um qualquer órgão da comunicação social... Os Jornalistas mais teimosos (que também os há, é verdade) poderão, a todo o momento, entrar para novas listas de dispensáveis...

Deixem-me, também por comodismo mas sobretudo por estar de pleno acordo, continuar a citar o brilhante texto do António Ribeiro: “O que aqui está em causa não se pode compadecer com os proverbiais brandos costumes portugueses nem com o velho hábito de deixar tudo nas meias tintas”.

É exactamente isso. Deveria ser exactamente isso. E por ser isso é que, mais uma vez, ninguém se lembra de ter ouvido falar em indícios, em avisos, em alertas. Governador do Banco de Portugal, Presidentes da República, ministros, secretários de Estado, deputados, procuradores gerais da República, magistrados, polícias etc. ninguém deu fé.

E, se calhar, não ter dado fé, continuar a não dar fé, é tão conveniente que, creio, até poderá um dia destes dar direito a uma comenda pelos altos serviços prestados à Nação...

Convenhamos, contudo, que os silêncios continuam a ser comprados. Tal como foram outros, tal como serão outros. Portugal começa a deixar de ser um país (Nação há muito que o deixou de ser) para passar a ser, apenas e tão só, um lugar muito mal (muito mal, mesmo) frequentado.

Na minha opinião todos os casos mediáticos vão ficar, salvo uma ou outra punição cosmética, em águas de bacalhau. Pelo cheiro, a água já está a ficar putrefacta. Mas, apesar disso, há sempre alguns (ao que parece são muitos) para quem chafurdar na merda é uma questão de vida.

1 comentário:

Unknown disse...

Amigo Orlando de Castro, bater forte e feio é o lema de um Jornalista que foi meu director quando eu também pegava na caneta para vassourar a esterqueira. E por ele ter sido assim, e porque o seu coração e carácter acompanhavam sempre uma férrea vontade de vencer, passei a considerá-lo como Irmão, consideração essa que, apesar da sua morte se ter verificado há muitos anos, mantenho incólume e assim manterei pelo resto da minha vida. Chamava-se ele João Charulla de Azevedo. Ao ler os seus artigos, especialmente este dirigido aos que gostam, ou tiram partido, de chafurdar na merda, concluo que Charulla de Azevedo não morreu. Afinal ele continua vivo e viverá sempre enquanto houver Jornalistas como o meu Amigo Orlando. Jornalistas de punho cerrado e mão aberta, Jornalistas que este País já abrigou em tempos de um Jornalismo em que a profissão se recusava comer à mesa do Poder, se recusava ser amante de interesses merdosos e escondidos sob lençois sujos de cama conspurcada. Que saudades, Amigo Orlando de Castro. É por isso que ao lê-lo, não posso deixar de o entusiasmar: força, meu Irmão. Não os deixe boiar tranquilamente na merda em que se chafurdam. É preciso incomodá-los. É preciso dizer que eles existem e cheiram mal. Cheiram pior que merda.