segunda-feira, abril 27, 2009

Paciência dos angolanos pode estar no limite

Alguns sectores do MPLA parecem não ter ficado satisfeitos com a esmagadora maioria conseguida nas eleições, semi-livres e semi-democráticas, que tiveram lugar em Angola. Os 10% da UNITA continuam a ser uma espinha na garganta dos donos do poder desde 1975.

Se o presidente do MPLA, e da República de Angola, José Eduardo dos Santos, não colocar a casa em ordem, poderá haver o perigo de a UNITA se fartar de ser enxovalhada e começar a responder à letra.

Se calhar, tanto o MPLA como a UNITA, esperam pelas eleições presidenciais (se as houver) para ver em pormenor como fica Angola. Até agora, como muitos jornalistas (alguns deles a trabalhar em Angola) sabem, existem informações de que alguns dos altos quadros da UNITA continuam a constar de uma lista, elaborada antes das eleições legislativas, de alvos a abater.

Constam e lá devem continuar até que o MPLA tenha curado todos os seus fantasmas que, embora sejam de âmbito interno, querem atribuir à UNITA.

Num cenário em que os poucos que têm milhões continuam a ter cada vez mais milhões, e em que, no mesmo país, muitos milhões não têm sequer o que comer, não custa a crer que a linguagem das armas volte a ter muitos adeptos.

Por alguma razão, ainda há meia dúzia de dias, o novo administrador do município da Caála, província do Huambo, Miguel Semakenje, achou por bem exortar os habitantes desta circunscrição a trabalharem unidos para a preservação da paz e a reconciliação nacional.


Não creio que Homens como Paulo Lukamba Gato, Alcides Sakala e muitos, muitos, outros, tenham deitado a toalha da luta política ao tapete. Também não creio que aceitem trair um povo que neles acreditou e que à UNITA deu o que tinha e o que não tinha.

E é esse povo que, de barriga vazia, sem assistência médica, sem casas, sem escolas, reclama por justiça e que a vê cada vez mais longe. E é esse povo que, como diz o arcebispo da minha cidade (Huambo), D. José de Queirós Alves, não tem força mas tem razão (ver
“Pessoas sem força, mas com razão”).

Sabendo que muitos deste Homens, que também deram tudo à UNITA, nunca trairão o seu povo, o MPLA opta por os pôr fora de combate, seja do ponto de vista político ou operacional.

O MPLA começou por uma oferta pública de compra que rendeu, reconheça-se, alguns dividendos. Surgiu uma coisa chamada UNITA-Renovada, alguns militares passaram-se para o lado do MPLA e até ajudaram a matar Jonas Savimbi.

Apesar dos milhões envolvidos, a compra não teve êxito total e a UNITA manteve-se (tanto quanto possível) coesa e coerente. Vai daí, se não há dinheiro que compre os dirigentes da UNITA opte-se por comprar quem os cale, se possível de forma definitiva.

A UNITA sabe que é assim. Até agora aguentou todos os ataques e humilhações feitas contra uma parte significativa do povo angolano. No entanto, tanto a paciência dessa fatia de angolanos como da própria UNITA poderá chegar rapidamente ao fim.

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