domingo, maio 31, 2009

Música anti-Sócrates varrida da rádio

«O tema chama-se 'Sem Eira nem Beira', mas não há ninguém que não o conheça por 'Sr. Engenheiro'. É uma das faixas mais comentadas e cantadas na rua do último disco dos Xutos & Pontapés, lançado a 6 de Abril. Mas, nas rádios nacionais só passou uma vez, uma única vez. Foi na Antena 3.

Os dados são avançados pela editora da banda, a Universal Music, que pagou a uma empresa para monitorizar três músicas do novo álbum, para saber exactamente quantas vezes foram tocadas. 'Quem É Quem', o primeiro single do disco, passou mais de uma centena de vezes. E 'Perfeito Vazio', o segundo single a ser lançado, foi o único tema a conseguir um lugar numa Lista A das playlists das rádios nacionais (a lista que obriga a que a música tenha em média quatro passagens diárias), com 136 passagens, só na Mega FM.

Zé Pedro, guitarrista dos Xutos, avança com surpresa: "Parece um complô contra o tema, ou uma espécie de exclusão por poder ferir susceptibilidades. Acho estranho. Parece-me que a música podia ter sido aproveitada como notícia e transformar-se num hipe de rádio", afirma. O músico diz manifestar-se contra o sistema de playlists, mas não critica nenhuma rádio por optar ou não por passar um tema dos Xutos. "Compreendo que, estando esta música a ferver, na boca de toda a gente, as direcções das rádios possam ter preferido não a passar por estar em cima da mesa como uma canção de contestação", adianta Zé Pedro, frisando que para os Xutos o sucesso da música é claro. Durante os concertos da banda, o tema é o que tem provocado maior vibração junto do público, aquele com que as pessoas mais se identificam, e a sua procura na Internet tem ultrapassado todas as expectativas. "Sentimo-nos compensados, portanto", afirma o guitarrista. A humorista Maria Rueff, que no seu programa "O Exame de Dona Rosete", na TSF, fez uma rábula com o tema, afiança que "é muito estranho a música não passar nas rádios", e considera pertinente que se investigue porquê.

Contactados pelo Expresso, os directores das maiores rádios nacionais refutam a ideia de qualquer tipo de censura, quer vinda do exterior quer criada internamente. António Mendes, director de programas da RFM, afirma que aquela é uma rádio musical que tem por objectivo tocar e fazer sucessos e que o boom do 'Sr. Engenheiro' nos jornais e televisões (recorde-se que o primeiro vídeo do tema passado pelo 'Jornal Nacional' da TVI foi para o ar a 15 de Abril) chegou a meio da fase de lançamento de "Perfeito Vazio". António Mendes adianta, no entanto, que a canção "se trata de um fenómeno político e não de um fenómeno popular". Nelson Cunha, director de programas da Mega FM, vai mais longe, explicando que a rádio "não está vocacionada para questões políticas, nem quer disso fazer bandeira. Os nossos princípios são de isenção musical e política".

José Marinho fala em nome da Antena 3, a única rádio que passou a canção portuguesa mais polémica da última década. "Não fazia sentido sermos a única rádio a tocar o tema. Fazê-lo isoladamente podia não ter bons resultados para nós, ainda por cima quando o tema ainda nem tem suporte vídeo", afirma. "Mas isso não significa que a canção esteja proscrita e que não venha a ser tocada num futuro próximo. Há três eleições a caminho e o tema é quente", conclui.

Também Pedro Abrunhosa, que em 1995 fez furor com 'Talvez F...", música que se transformou num hino anti-Cavaco (era então primeiro-ministro em final de mandato, tal como Sócrates agora), não quis comentar o assunto. Recorde-se que as improvisações do músico à letra da canção, substituindo o "e eu e tu o que é que vamos fazer", por "e eu e a Maria o que é que vamos fazer", não fizeram com que o tema fosse excluído das rádios. »

In:
http://aeiou.expresso.pt/musica-anti-socrates-dos-xutos-varrida-da-radio=f517786

1 comentário:

Unknown disse...

É o que eu disse, Amigo Orlando de Castro, estamos à beira do precipício, repito, estamos à beira do precipício, e basta ler o que foi relatado no seu artigo para percebermos (se é que ainda ninguém entendeu) que a vaga de cangalheiro já foi preenchida. E pergunto: os brilhantes e atentos "jornalistas " que frequentemente arrotam vistosas postas de "viva a liberdade","transparência", "a democracia é a arma do povo", "abaixo o fascismo", "até que a voz nos doa e a caneta se esfrangalhe", onde estão? A comer migalhas? Iludidos e a limpar carinhosamente os sapatinhos do Poder? Que pergunta tão insólita e disparatada... Certamente muitos deles de cara tapada, no anonimato e na desgraçada vida de espreitar o fundo do prato. E olhe, Amigo Orlando, este País já teve Homens e Jornalistas de rosto lavado e ao vento, tempos de uma imprensa que se orgulhava de morrer pobre mas escorreita, essa sim, o baluarte do povo,imprensa que entendia a Liberdade como um direito de nascença e não como um vale do correio. Creio, acredite, muito sinceramente, que ainda há restos dessa maneira de encarar, com honradez, a infelicidade de se viver lado a lado com verdades e ideais prostituídos. "Música anti-Sócrates varrida da rádio", o alheamento e a indiferença que esse facto tem merecido por parte de quem professa, e jurou,no seu íntimo, defender a liberdade, é apenas um pequenino e amargo exemplo dos tempos rançosos que atravessamos. Jaime de Saint Maurice