domingo, julho 26, 2009

Carta aberta ao presidente da Guiné
(Malam Bacai Sanhá ou Kumba Ialá)

Senhor presidente:

Dois em cada três guineenses vivem na pobreza absoluta e uma em cada quatro crianças morre antes dos cinco anos de idade, diz o representante do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

A Guiné-Bissau continua a ocupar uma posição de desenvolvimento muito precária no concerto das Nações, com uma evolução relativamente baixa da economia e um crescimento do Produto Interno Bruto fraco.

Além da pobreza absoluta que afecta dois em cada três guineenses, a fome ainda existe na Guiné-Bissau em consequência da conjuntura económica "débil", motivada por uma actividade agrícola de monocultura de caju, principal produto de exportação do país e/ou pelas cíclicas crises político-militares.

Esta situações, aliadas à instabilidade política e institucional, não têm ajudado ao processo de melhoria sustentada das condições de vida das populações guineenses.

A progressão (se é que tal se pode chamar) na educação, em que persiste a desigualdade entre os sexos, com primazia aos rapazes, a morte durante o trabalho de parto por falta de cuidados básicos e a propagação de doenças como o HIV/SIDA, a tuberculose e a malária são, infelizmente, emblemas do seu país.

O aprovisionamento de água potável é fraco, os níveis de saneamento básico e de habitação "decente" são dos piores do mundo.

A esperança de vida à nascença para um guineense é de "apenas" de 45 anos, atendendo à fragilidade humana, sobretudo por causa da fraca cobertura dos serviços sociais.

Eu sei, senhor Presidente, que é daqueles poucos que têm milhões e que provavelmente (o tempo dirá se me engano) se esquecerá depois do dia 26 dos milhões que têm pouco, ou nada.

Já pensou, senhor presidente, enquanto saboreia várias refeições por dia, que aí na sua rua há gente que foi gerada com fome, nasceu com fome e morreu com fome?

Claro que não pensou. Certamente tem mais em que pensar. Eu sei. Mas olhe, Senhor Presidente, não é possível enganar toda a gente durante todo o tempo.

E, mesmo famintos, ainda sobra força aos guineenses para um dia destes voltarem a fazer o que já começa a ser um hábito: puxar o gatilho.

Espero, senhor Presidente, que pense nisso e que, de uma vez por todas, aceite que quem não vive para servir não serve para viver.

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