quinta-feira, julho 16, 2009

Existe em Angola o direito à diferença?

Sete anos depois dos acordos de paz, Angola continua a ter necessidade (o que, só por si, não é um bom sintoma) de falar da consolidação da paz.

E tem essa necessidade porque os vencedores não sabem honrar os vencidos e, por sistema, continuam a vangloriar-se de uma vitória que já deveria fazer parte da história. O direito à diferença, neste caso política, continua a não existir.

Tal como como continua a existir a divisão entre os angolanos de primeira, os do MPLA, e os outros. Outros que, por muito pequena que seja (mas não é) a sua representatividade, deveriam ter os mesmos direitos.

É triste e grave que o presidente da UNITA ainda tenha necessidade, por força das circunstâncias, de dizer “estamos aqui para dizer que apesar daqueles que pretendem fazer com que a UNITA desapareça desta terra, estamos decididos a ficar aqui para sempre” (Londuimbali, 20 de Junho de 2009).

“Quem tiver planos para o futuro deste país, quem quiser fazer de Angola um país grandioso vai ter no passado uma escola, para não repetir os mesmos erros”, explicou Isaías Samakuva, fazendo uma pedagogia inversa à do MPLA que, por defeito de fabrico, continu a dividir os angolanos em bons (os seus) e em maus (todos os outros).

Eu sei que ao MPLA custa aceitar, e muito mais reconhecer, que se não fosse a UNITA o embrionário sistema democrático em Angola seria apenas uma miragem. É uma verdade que dói, mas importa que o MPLA entenda que só a verdade cura.

“Estamos hoje num país que se diz democrático, porque nós lutamos para que o país fosse verdadeiramente democrático; os que se dizem democratas mas que ainda pretendem semear o ódio entre nós, esses não são democratas”, disse Isaías Samakuva, lembrando que a democracia faz-se na diversidade de opiniões e permite a coexistência na diferença.

“Se nos calarmos e pararmos com a nossa resistência vão passar por cima de nós”, alertou o presidente da UNITA. E é isso mesmo.

O MPLA já passou por cima de muitos, continua a querer passar por cima de muitos outros, mas como diria o Mais Velho, só é derrotado quem deixa de lutar. E os angolanos nunca deixarão de lutar.

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