domingo, agosto 02, 2009

Amanhã volta a ser ontem sem ter sido hoje

Antes, e ainda há no activo quem disso se lembre, havia a censura. Hoje não há censura, há autocensura. Antes havia a censura, hoje há os critérios editoriais. Antes havia censura, hoje há audiências. Antes havia censura, hoje há lucros. Antes havia Jornalismo, hoje há comércio jornalístico.

Antes a única tarefa humilhante no Jornalismo era a que se realizava com mentira, deslealdade, ódio pessoal, ambição mesquinha, inveja e incompetência. Hoje nada é humilhante desde que dê lucro.

Antes um Jornalista nunca (nunca) vendia a sua assinatura para textos alheios, tantas vezes paridos em latrinas demasiado aviltantes. Hoje é tudo uma questão de preço.

Antes, se o Jornalista não procurava saber o que se passava no cerne dos problemas era, com certeza, um imbecil. Antes, se o Jornalista conseguia saber o que se passava mas, eventualmente, se calava era um criminoso. Hoje há cada vez mais imbecis e criminosos.

Antes os Jornalistas erravam muitas vezes. Hoje não erram. E não erram porque há cada vez menos Jornalistas.

Antes os Jornalistas sabiam que estavam todos os dias em cima de um tapete rolante que andava para trás. Se queriam ganhar terreno tinham de correr. Não bastava caminhar. Hoje os operários da imprensa ou se limitam a andar nesse tapete e quando derem fé não saíram do mesmo sítio ou, em muitos casos estimulados pelos chefes da linha de enchimento, resolvem andar no sentido do tapete…

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