sábado, dezembro 19, 2009

À venda? Talvez! Em saldo? Não!

No discurso proferido durante o acto da sua tomada da posse do cargo de Presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) de Portugal, o Juiz Conselheiro Noronha Nascimento pronunciou-se sobre a forma como os jornalistas acompanham os temas de Justiça, aludindo designadamente a violações de normas éticas e deontológicas e de deveres estabelecidos no seu Estatuto profissional.

É o que eu digo. Metam os jornalistas na ordem e em ordem, seguindo o exemplo dos últimos anos: desemprego com eles e, se não for suficiente para que optem por colunas vertebrais amovíveis, outras medidas haverá.

Como corolário dessa reflexão, Noronha Nascimento afirmou: “Para as violações estatutárias só conheço um antídoto eficaz: um órgão com poderes disciplinares efectivos, composto paritariamente por representantes das próprias classes profissionais e da estrutura política do estado de modo a obviar à sua partidarização ou ao seu corporativismo; para as violações de cidadania, a indemnização sancionatória que os saxónicos de há muito implementaram e onde a advocacia desempenha um papel importante de detecção e controlo”.

A Direcção do Sindicato dos Jornalistas (SJ) reagiu e, desde logo, “reconhece ao Presidente do STJ, como a qualquer cidadão, o direito de comentar o funcionamento dos Média e o trabalho dos jornalistas”, acrescentando que “a expressão pública de opiniões e de críticas aos jornalistas constitui, aliás, um dos exercícios mais importantes – e mais severos – de escrutinar a sua missão e o seu desempenho”.

Cá para mim, o mais simples era adoptar a metodologia de algumas das empresas donas da comunicação social. A receita é mesmo simples: os jornalistas ou comem e calam, ou se não se calam deixam de comer. Vão ver que é remédio santo.

O SJ diz que “os jornalistas não estão acima da Lei e o ordenamento jurídico da República contem normas mais do que suficientes e, nalguns casos, mais severas, para sancionar eventuais práticas ilícitas, assim como já consagra dispositivos próprios para julgar e punir a violação dos deveres profissionais estabelecidos no seu Estatuto”.

Mas, na minha modesta opinião, o problema apenas está no facto de os jornalistas estarem abaixo da lei. Portugal quer, tal como muitos outros regimes, que os jornalistas tenham toda a liberdade para estarem calados, para pensar pela cabeça dos chefes de posto, para assinarem textos paridos nas mais vis latrinas.

Pelas medidas já tomadas ao longo dos últimos anos, os donos do poder em Portugal já conseguiram pôr os jornalistas à venda. Mas como o êxito comercial não foi o esperado, querem agora pô-los em saldo...

Ver comunicado do SJ:

2 comentários:

Anónimo disse...

Neste seu óptimo artigo sobre o jornalismo em Portugal, eu acrescento, excertos de um artigo do Prof. António Valera, Arqueólogo http://irrealidadeprodigiosa.blogspot.com/
Penso que está interligado, visto que quem polui, são exactamente esses a quem se refere...

"Somos como uma verdadeira potência emergente, que na sua desenfreada industrialização e massificação de consumo, se envolve numa enorme manta de neblina poluente. Mas se em Pequim essa névoa que esconde o Sol é feita de gazes, em Portugal é feita de mediocridade. Se lá se afectam forças e pulmões, aqui afectam-se almas e ânimos.

Bom, que a nossa poluição é sobretudo mental não creio que restem dúvidas. Até porque só brincámos à Revolução Industrial (e tardiamente) e quando deixámos de parasitar no Império e passámos a parasitar na Europa, não demorámos muito tempo a colocar a nossa industriazinha ainda em maiores sarilhos. A nossa poluição industrial é, pois, e sobretudo quando comparada com a outra, coisa de pouca monta. Contribuímos pouco para o efeito de estufa e aquecimento global e deveríamos juntar-nos aos segundos e terceiros mundos que reclamam compensações em Copenhaga.

O problema é que temos telhados de vidro, pois temos contribuído para o arrefecimento mental mundial. Cada um de nós pode senti-lo na sua areazinha de actuação, no seu microcosmos que, por definição, é uma versão do macrocosmos, ou seja do todo português.

E como a solução, que se encontra no sector da Educação, está acorrentada, resta-nos a esperança que alguém nos imponha quotas para combater essa mediocridade. Apelo, pois, à urgente descriminação positiva da inteligência."

Tem tudo a ver, não tem?

Anónimo disse...

Já agora, e porque mete "jornalismo" o que dizes ao facto de uma empresa ligada aos Mídia (RTP), cujo accionista principal e único é o Estado - logo os contribuintes - ir comprar a sua actual sede por 70 Milhões Euros ao ainda seu proprietário que, só por acaso, se chama BPN, logo empresa subvencionada em milões pelo Estado português, logo pelos contribuintes...
Parece-me que alguém está a fazer "overbanking" o que, creio ainda é proibido por Lei.
Cumpts
ELAN