sexta-feira, janeiro 22, 2010

Pois claro, só o MPLA tem razão

Citando D. Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças Armadas portuguesas, "seria bom que o Governo de Luanda, que se quer dar ao respeito, que respeite. Porque quem não respeita, já sabe como vai acabar".

D. Januário Torgal Ferreira esquece-se, por exemplo, que a empresária angolana Isabel dos Santos comprou 10% da Zon Multimédia, tornando-se assim accionista de referência da empresa. Gastou a módica quantia de 163,8 milhões de euros.

D. Januário Torgal Ferreira esquece-se que o clã Eduardo dos Santos, para evitar negócios a retalho, lançará em breve uma Oferta Pública de Aquisição sobre Portugal.

D. Januário Torgal Ferreira esquece-se da posição dominante da filha daquele que é presidente de Angola há 31 anos, José Eduardo dos Santos.

D. Januário Torgal Ferreira esquece-se que os investimentos angolanos no mercado de capitais português, que se restringem aos da Sonangol e de Isabel dos Santos, valiam 1813 milhões de euros no início de Setembro, o que representa três por cento do total da capitalização bolsista do principal índice, o PSI 20.

Contudo, D. Januário Torgal Ferreira não se esquece que: 68% (68 em cada 100) dos angolanos são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com fome; 45% das crianças angolanas sofrem de má nutrição crónica, uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos; no “ranking” que analisa a corrupção em 180 países, Angola está na posição 158.

Contudo, D. Januário Torgal Ferreira não se esquece que em Angola, a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos, o silêncio de muitos, ou omissão, deve-se à coação e às ameaças do partido que está no poder desde 1975.

Contudo, D. Januário Torgal Ferreira não se esquece que em Angola, a corrupção política e económica é, hoje como ontem, utilizada contra todos os que querem ser livres, entre 1997 a 2001, o país consagrou à educação uma média de 4,7% do seu orçamento, enquanto a média consagrada pela SADC foi de 16,7%.

Contudo, D. Januário Torgal Ferreira não se esquece que em Angola: 76% da população vive em 27% do território; mais de 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros; mais de 90% da riqueza nacional privada foi subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população de cerca de 18 milhões de angolanos.

Contudo, D. Januário Torgal Ferreira não se esquece que em Angola, o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.

Contudo, D. Januário Torgal Ferreira não se esquece, e eu também não, que a maioria dos angolanos continua a passar fome, mas se José Eduardo dos Santos está mais preocupado em comprar, ou colonizar, Portugal do que em dar de comer ao povo.

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