terça-feira, março 23, 2010

"É como dar dinamite a um pirómano"

O futuro vice-presidente do Banco Central Europeu, Vítor Constâncio, foi hoje, em Bruxelas, sujeito ao exame dos deputados do Parlamento Europeu, tendo sido confrontado com críticas ao seu desempenho no Banco de Portugal.

A nomeação de Vítor Constâncio baseia-se, segundo as teses oficiais, na sua competência. Na verdade, se fosse por isso, nem no Burkina Faso teria lugar. No entanto, esta escolha política, apadrinhada pela Alemanha, visa abrir caminho para o alemão Alex Weber aceder à presidência do BCE em 2011.


Seja como for, creio que neste caso, como na maioria dos praticados em Portugal, o “crime” compensa. Será difícil fazer pior do que aquilo que Constâncio fez nas ocidentais praias lusitanas, mas nunca se sabe.

O ainda governador do Banco de Portugal foi confrontado com a pergunta de uma eurodeputada luxemburguesa do Partido Popular Europeu sobre as críticas que alguns sectores em Portugal lhe fazem da forma como exerceu as suas responsabilidades de supervisão financeira nos casos BPP, BCP e BPN.

“Como se pode explicar que um homem que fracassou no seu país pode ser responsável pela supervisão na Europa?”, perguntou Astrid Lulling, acrescentando que seria (será) como “dar barras de dinamite a um pirómano”.

Vítor Constâncio rejeitou as críticas feitas e disse ter “muito orgulho” no seu “desempenho à frente do Banco de Portugal”.

Com a chegada de Constâncio, o Banco Central Europeu entrará numa nova fase, desde logo porque como diz o governador do Banco de Portugal, a supervisão ao sistema financeiro actua com métodos e padrões próprios e usados internacionalmente e não é uma espécie de KGB e FBI juntos.

Esta é uma boa teoria. Quem fizer asneiras (e em Portugal isso é o pão nosso de todos os dias) poderá sempre dizer que errou porque não é uma espécie de KGB e FBI juntos.

De qualquer modo, sendo certo que ninguém sabe o que nesta altura é o Banco de Portugal, de uma coisa se pode ter a certeza, não é uma espécie de KGB e FBI juntos. Já não é mau...

Quando no dia 27 de Maio de 2009 acusou um deputado do Bloco de Esquerda de “equívoco ou ignorância fundamental” sobre o que é a supervisão e o que foi a intervenção do Banco de Portugal no Banco Português de Negócios, Vítor Constâncio disse que a natureza de algumas perguntas formuladas são “com presunções de os supervisores serem uma espécie de KGB e FBI juntos”.

“O supervisor não é um super polícia” com acesso a tudo, disse o governador do Banco de Portugal, mas sim uma entidade que actua segundo métodos e padrões reconhecidos. E, acrescento eu, com a eficácia que se conhece e que é recompensada com a entrada no BCE.

Ok. Então, em vez de supervisor (visão superior à normal), Vítor Constâncio deveria reconhecer que não passa de um simples visor ou, neste caso, um grande retrovisor em que é possível distinguir o que interessa não aos portugueses de segunda mas, apenas, aos de primeira (os do PS quase sempre, os do PSD de vez em quando).

“Não pode ser cometido o erro, para não dizer outra coisa, de se avaliar a actuação por critérios e objectivos que sejam diferentes das práticas internacionais”, indignou-se Vítor Constâncio, recordando que uma análise recente do Fundo Monetário Internacional mostrou que as práticas do regulador português estão no grupo das melhores.

O mesmo diria com certeza do governador do Banco do Burkina Faso...

Constâncio deixou na altura ainda uma interrogação sobre o papel dos revisores oficiais de contas e auditores, dizendo que as situações detectadas no BPN, ainda antes desta situação que levou à nacionalização, “foram todas identificadas pelo Banco de Portugal e não pelos auditores”.

Ou seja. A culpa é dos outros e não é tão grande porque, embora não sendo uma espécie de KGB e FBI juntos, muito menos PIDE ou DGS, o Banco de Portugal conseguiu fazer o papel dos outros.

Se calhar esqueceu-se do seu, e como não tinha ponto...

1 comentário:

Calcinhas de Luanda disse...

Acho que o Orlando Castro anda preocupado com o óbvio. Em Portugal a mediocridade sempre foi recompensada. Não interessa, nunca interessou e nunca interessará a validade profissional de uma pessoa. Apenas conta o modo como ela alinha com interesses instalados ou a instalar.O profissionalismo e a integridade não são valores de referência em Portugal. Depois no estrangeiro os portugueses ouvem do que não gostam.
E justiça lhes seja feita, nas suas ex-colónias deixaram bons e fiéis seguidores!
Do Brasil até Timor, é sempre mais do mesmo.
Mas temos de ser objectivos e pragmáticos, a quem não tem capacidades, não se podem exigir comportamentos dignos. Infelizmente, e por estas razões, o mundo de língua oficial portuguesa será sempre olhado, de fora, com alguma displicência.