sexta-feira, março 19, 2010

A força da mensagem e do mensageiro

Apesar de não contar com o meu voto, esse vai para Fernando Nobre, o candidato a Presidente da República portuguesa, Manuel Alegre, merece ser ouvido e lido com atenção, nomeadamente pelos socialistas.

A propósito do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), Manuel Alegre considerou hoje "um escândalo para a saúde da República" os prémios dos gestores públicos.

"Não me parece que haja neste PEC um suficiente esforço de partilha", disse Alegre em Bragança, num jantar com apoiantes em que comentou o PEC apresentado pelo Governo.

Para o socialista, "o esforço de contenção que é pedido pelo PEC é desigualmente distribuído". Ou seja, como aqui tem sido escrito, o Governo quer tirar aos milhões que têm pouco para dar aos poucos que têm cada vez mais milhões.

Manuel Alegre criticou também a prevista privatização de serviços públicos, "ainda por cima rentáveis", com a qual entende "não se está a pretender uma melhoria da sua gestão e uma resposta ao interesse público, mas apenas querer obter rapidamente uma receita extraordinária".

O candidato a Presidente da República tem razão quando defende que o que Portugal precisa "não é do código de conduta das medidas orçamentais impostas pelo Banco Central Europeu, mas de uma austeridade republicana exemplar, a partir de cima".

E a partir de cima significa o quê? "Desde os titulares dos órgãos de soberania aos administradores de empresas públicas".

"Nenhum constrangimento vindo de fora pode pôr em causa serviços públicos essenciais ao povo português como a Segurança Social, a escola pública e o Serviço Nacional de Saúde", afirmou Manuel Alegre, certamente esquecido de quem manda no Governo.

Fez ontem um ano, o primeiro-ministro de Portugal (de que outro país poderia ser?) acusou o líder do CDS-PP de promover um “discurso de inveja social” sobre a questão dos vencimentos dos administradores dos bancos.

Nesse dia, há portanto um ano, no debate quinzenal com o primeiro-ministro, Paulo Portas questionou José Sócrates se entende que o Governo “deve ter uma palavra moralizadora e moderadora do ponto de vista das práticas salariais” numa situação de crise económica e em casos de bancos que tenham beneficiado do aval do Estado.

Paulo Portas deu na altura como exemplo o caso do BCP, em que “cada administrador ganha 460 mil euros por ano”.

Na resposta, o primeiro-ministro acusou Paulo Portas de “oportunismo” e de promover um discurso “da mais pura inveja social”.

Recorde-se ainda (não sei para quê, mas está bem...) que um mês depois de ter saído da Caixa Geral de Depósitos para o BCP, Armando Vara foi promovido pelo banco público.

Recorde-se também que na altura em que era ministro do Ambiente, Agosto de 2001, José Sócrates foi qualificado por Manuel Alegre como "teimoso", "obsessivo" e "arrogante" por não querer que Portugal abandonasse progressivamente a co-incineração em cimenteiras.

"Não há racionalidade capaz de convencer Sócrates", declarou na altura Manuel Alegre ao Público, lamentando que o carácter do ministro o impeça de reconhecer a "clara contradição" entre a assinatura da convenção da ONU sobre a matéria e o início da co-incineração em Portugal.

"Por razões que eu não quero adiantar, o ministro Sócrates tem cobertura política", afirmou na altura Alegre, ao acusar o Governo socialista de se reger por um "critério de fidelidades" já evidenciado quando António Guterres não demitiu Armando Vara do cargo de ministro da Juventude e Desporto, ao rebentar a polémica sobre a Fundação para a Prevenção e Segurança.

E, já gora, ainda alguém se recorda de Rosário Gama, a militante socialista apoiante de Manuel Alegre e presidente do Conselho Executivo da Escola Secundária Infanta D. Maria, que acusou no dia 6 de Maio de 2009 o PS de “não aceitar o contraditório, mesmo vindo do interior do partido”?

Pois é. Com ou sem PEC, o país lá vai continuando a cantar e a rir, abençoado pelas rolhas, pelas cortinas de fumo e pela areia que atiram contra a nossa chipala.

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