quinta-feira, março 25, 2010

Morreu o José Luís de Abreu

Gosto (e o José Luís de Abreu também gostava) de manter viva a ideia de que não se é Jornalista sete horas por dia a uns tantos contos por mês, mas sim 24 horas por dia... mesmo estando desempregado.

Reconheço, contudo, que essa é uma máxima cada vez menos utilizada e, até, menosprezada por muitos dos que mais recentemente chegaram a esta profissão. É, também ela, sinal dos tempos.

Os jornais há muito que deixaram de ser um produto feito à medida dos jornalistas e/ou dos consumidores mas, isso sim, dos empresários. São, cada vez mais, um negócio ou, melhor, uma forma de comércio. São apenas mais um produto em que os seus fazedores (jornalistas) são escolhidos à, ou por, medida.

E, como tal, têm de obedecer às regras da oferta e da procura. Mais do que informar, mais do que formar, têm de vender. E quem sabe o que fazer para melhor vender não são, na maioria dos casos, os jornalistas. Os jornalistas são os montadores que, de acordo com o mercado, alinham as peças de um crime, de um comício, de um atentado ou de um buraco na rua.

Se o que vende é a exploração do drama vivido com a queda da ponte de Entre-os-Rios, são essas as peças que têm de montar, alheios que têm de estar ao facto de a sua liberdade dever terminar onde começa a dos outros.

Se o que vende são os concursos televisivos, são essas as peças que têm de montar, pouco importando que em África morram a todos os minutos milhares de crianças ou, até, que as pensões de reforma em Portugal sejam, para a grande maioria, uma miséria.

Se o que vende é dar uma ajuda ao partido do Governo para que este ganhe as próximas eleições, são essas as peças que têm de montar, nada contando a teoria da isenção que é tão do nosso teórico agrado.

Se o que vende é divulgar os produtos da empresa «X», são essas as peças que têm de montar, passando por cima do facto de essa empresa eventualmente não pagar os salários aos seus trabalhadores.

Se o que vende é dar cobertura às ditaduras (sejam a de Fidel Castro ou a de José Eduardo dos Santos), são essas peças que têm de montar, calibrando-as da forma a parecerem dos melhores exemplos democráticos. Pouco importa tudo o resto.

Assim sendo, as linhas de montagem não precisam de jornalistas 24 horas por dia, basta-lhes as sete horas. E aos jornalistas basta-lhes, ao que parece, uns tantos euros por mês...

Vem tudo isto a propósito da morte do Chefe, do Mestre, José Luís de Abreu. Um Jornalista como poucos, um Homem como poucos, um Amigo como poucos, um Camarada como poucos. Quem conheceu o verdadeiro Jornal de Notícias sabe do que falo.

Mas, como parece ser a regra, os bons vão partindo e a escumalha lá continua a cantar e a rir no convés...

Adeus Chefe, Mestre, Amigo e Camarada.

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