quinta-feira, maio 06, 2010

Seis mil dólares de renda por um T2
(mas ao lado o povo morre de fome)

Os grandes “players” do imobiliário angolano vão ter de se reposicionar para encontrar respostas para as novas necessidades e porque o segmento da construção cara esgotará em breve, disse hoje à Lusa o director geral da Colliers International Angola.

Enquanto isso, ali mesmo ao lado, numa outra Angola, todos os dias, a todas as horas, a todos os minutos há angolanos que morrem de barriga vazia. 70% da população passa fome.

Alguns dos mais importantes empreendimentos imobiliários em Luanda, normalmente edifícios de vários pisos, são colocados à venda por preços que ultrapassam o milhão de dólares, havendo casos de dois a três milhões por apartamento.

Isto leva a que as rendas de apartamentos do tipo T2 possam, em Luanda, atingir em média entre quatro a seis mil dólares, passando-se o mesmo com os escritórios.

Enquanto isso, 45% das crianças angolanas sofrem de má nutrição crónica, uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos. No “ranking” que analisa a corrupção em 180 países, Angola está na posição 158.

Enquanto isso, em Angola, a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos, o silêncio de muitos, ou omissão, deve-se à coação e às ameaças do partido que está no poder desde 1975.

Enquanto isso, em Angola, 76% da população vive em 27% do território. Mais de 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros; mais de 90% da riqueza nacional privada foi subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população.

Enquanto isso, em Angola, o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.

Enquanto isso, a CPLP vai ter na presidência (Angola) a partir de Julho um país cujo presidente (o único da Lusofonia) não só não foi eleito como é, dentro das boas tradições ditatoriais, o que há mais tempo está no poder. Qualquer coisa como 31 anos.

Recordam-se que o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, afirmou em 6 de Outubro de 2008 que o Governo iria aplicar mais de cinco mil milhões de dólares num programa de habitação que inclui a construção de um milhão de casas?

Recordam-se que a construção de um milhão de casas para as classes menos favorecidas de Angola e jovens foi uma das promessas da campanha eleitoral mais enfatizadas pelo Presidente da República de Angola e do MPLA, partido que governa o país há 35 anos?

Recordam-se que nesse dia o dono de Angola afirmou que "o objectivo dessa estratégia é proporcionar melhor habitação para todos, progressivamente, num ambiente cada vez mais saudável"?

Recordam-se que José Eduardo dos Santos disse que as "linhas de força" traçadas pelo Governo estão orientadas para uma "cooperação activa" entre a administração central e local do Estado, entre o sector público e o privado, com vista à execução de uma nova política que contribua para "a geração de empregos, para o desenvolvimento harmonioso dos centros urbanos, para a eliminação da pobreza e da insegurança, e para a eliminação também das zonas degradadas e suburbanas"?

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