quarta-feira, junho 16, 2010

Obiang amigo, Pedro Pires está contigo!

O presidente de Cabo Verde recebeu hoje de manhã o seu homólogo da Guiné Equatorial. Conhecida que é a apologia do país a favor da entrada do reino de Teodoro Obiang Nguema Mbasogo na Comunidade de Países de Língua(?) Portuguesa, tudo parece normal.

Estranham, contudo, os mais ingénuos que Pedro Pires tenha barrado os jornalistas quando estes, numa coisa a que se chama liberdade de imprensa, se aproximaram para chegar à fala com Teodoro Obiang Nguema Mbasogo.

Pedro Pires impediu as câmaras da televisão e os microfones de filmarem a entrada para o veículo oficial que levou Obiang Nguema para a Assembleia Nacional, o que gerou manifestações de repúdio dos jornalistas, tal o ineditismo do gesto, que foi mostrado e comentado de forma crítica pela televisão local.

Segundo a Repórteres Sem Fronteiras, em em 2009 Cabo Verde caiu do 36º para 44º lugar em matéria de liberdade de imprensa. Certamente que com mais este exemplar caso, a Pátria de Pedro Pires vai tombar mais uns lugares. Ou talvez não. Se calhar proteger um ditador é até uma qualidade, sobretudo petrolífera, que pode render muitos pontos.

Obiang, que a revista norte-americana “Forbes” já apresentou como o oitavo governante mais rico do mundo, e que depositou centenas de milhões de dólares no Riggs Bank, dos EUA, tem sido acusado de manipular as eleições e de ser altamente corrupto.


“Mas o que é que isso importa”, perguntará certamente Pedro Pires, tal como fazem José Eduardo dos Santos, Armando Guebuza ou José Sócrates.

Obiang, que chegou ao poder em 1979, derrubando o tio, Francisco Macias, foi reeleito no ano passado com 95 por cento dos votos oficialmente expressos (também contou, como é hábito, com os votos dos mortos), mantendo-se no poder graças a um forte aparelho repressivo, do qual fazem parte os seus guarda-costas marroquinos.

“Mas o que é que isso importa”, perguntará certamente Pedro Pires, tal como fazem José Eduardo dos Santos, Armando Guebuza ou José Sócrates.

Recorde-se que gozando, como todos os ditadores que estejam no poder, de um estatuto acima da lei, Obiang riu-se à grande e à francesa quando o ano passado um tribunal... francês rejeitou um processo que lhe fora intentado por recorrer a fundos públicos para adquirir residências de luxo em solo gaulês, com a justificação de que – lá como em qualquer parte do mundo - os chefes de Estado estrangeiros, sejam ou não ditadores, gozam de imunidade.

Os vastos proventos que a Guiné Equatorial recebe da exploração do petróleo e do gás natural poderiam dar uma vida melhor aos 600 mil habitantes dessa antiga colónia espanhola, mas a verdade é que a maior parte deles vive abaixo da linha de pobreza.

Mas se, por exemplo, em Angola há 70% os pobres, porque carga de chuva não podem também existir, democraticamente, na Guiné Equatorial?, perguntará certamente Pedro Pires, tal como fazem José Eduardo dos Santos, Armando Guebuza ou José Sócrates.

Reconheça-se, contudo, que tomando como exemplo Angola, a Guiné Equatorial preenche todas as regras para entrar de pleno e total direito na CPLP. Não sabe o que é democracia mas, por outro lado, tem fartura de petróleo, o que é condição “sine qua non” para comprar o que bem entender.

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