quarta-feira, junho 16, 2010

Porque a corrupção não é problema...
todos os josés (santos ou não) ajudam

O embaixador dos EUA em Angola, Dan Mozena, garantiu hoje, em Lisboa, que Angola tem um grande potencial de investimento e incentivo às empresas norte-americanas e outras, facto que as tem levado a apostar em Luanda, mas alertou para a corrupção, como se isso fosse, de facto, um problema. Uma no cravo e outra na ferradura como é timbre do pessoal ao serviço do tio Sam.

Dan Mozena, provavelmente por estar na Europa, esqueceu-se que há verdades que o regime angolano não permite que se digam. E ele não disse, mas é verdade que Angola estava, em 2008, na posição 158 no “ranking” que analisa a corrupção em 180 países, e, em 2009, passou para a ... 162.

“Angola tem muitas oportunidades para os investimentos norte-americanos e uma parceria entre EUA e Portugal pode abrir portas aos negócios no país”, sublinhou o diplomata que falava na sessão de abertura do “Access África Fórum”, que decorre hoje e amanhã em Lisboa.

Dan Mozena escusava de meter Portugal ao barulho, desde logo porque é sabido que Lisboa tem os seus canais próprios de ligação ao regime angolano e, por isso, antes de criticar seja o que for vai sempre ler o que está escrito na cartilha do partido que governo Angola desde 1975, com consulta prévia ao presidente que está no poder há 31 anos.

Segundo o embaixador norte-americano, Angola “é mais do que petróleo e gás” e nomeou a construção, reciclagem e energia como sectores em expansão. Também é o país da miséria (perto de 70% da população) e dos angolanos de primeira (os do MPLA) e dos de segunda (todos os outros). Mas isso, é claro, são contas de outro rosário.

“Há grandes oportunidades e os EUA estão a perder o barco”, alertou Dan Mozena, acrescentando que “o Governo angolano quer diversificar a economia para além do petróleo e do gás”.

O diplomata referiu ainda que, a par da Nigéria e da África do Sul, Angola é “um dos três principais parceiros estratégicos dos EUA em África”. Tão estratégico que os EUA preferem que Angola continue a ser governada sempre pelos mesmos, o que é uma garantia de que não têm de alterar as formas, nem sempre ortodoxas, de relacionamento.

No entanto, Dan Mozena alertou que investir em Angola é uma tarefa difícil que requer “paciência e empenho”. “É difícil arranjar visto e um quarto de hotel e a corrupção é real e é um desafio, mas as empresas norte-americanas podem e devem competir”, sublinhou.

Por outras palavras, Dan Mozena disse que as empresas, norte-americanas ou outras, sabem bem como dar a volta ao assunto, sabem que para se chegar a qualquer lado é preciso que uma mala carregada de dólares passe por baixo da mesa. E, afinal, é tudo uma questão de fazer contas.

Dan Mozena disse também que a embaixada norte-americana está a trabalhar com o Governo angolano e com a sociedade civil para melhorar a situação a nível da corrupção, dando como exemplo que “o Presidente está a liderar o programa Tolerância Zero à corrupção e estamos a colaborar com ele”.

E trabalhar com José Eduardo dos Santos não significa que, dentro da filosofia da transparência, o regime vá reconhecer que a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens é o método utilizado pelo MPLA (desde 1975) não para amordaçar os angolanos.

Também não significa que o regime vá reconhecer que 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros; que mais de 90% da riqueza nacional é privada e foi subtraída do erário público e que está concentrada em menos de 0,5% de uma população.

Também não significa que o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, deixe de estar limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.

Significa apenas, o que nem sequer é novidade, que os poucos que têm milhões vão ter ainda mais milhões, e que os milhões que têm pouco ou nada vão ter ainda menos.

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