sexta-feira, fevereiro 11, 2011

De Portugal a Angola passando pelo Egipto

A propósito da queda de Hosni Mubarak, o meu Velho amigo Eugénio Costa Almeida pergunta “onde estão os cerca de 88,6% de egípcios que o elegeram nas últimas eleições e os 60% que o (re)aprovaram em Setembro de 2005?”

Pois é. Além disso, relembra igualmente que o partido fundado por Mubarak, até agora no poder, está integrado na Internacional Socialista, acrescentando que é “interessante como muitos partidos ditos democráticos, mas com práticas bem autocratas e ditatoriais e no poder há muitos anos, alguns há mesmo mais de vinte anos, são aliados ou associados da Internacional Socialista…”

Não sei se o Eugénio se referia a Angola. Mas, aproveitando essa possibilidade, recordo que Angola é o único Estado da CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, à qual aliás preside, que têm há 31 anos o mesmo presidente e que nunca foi eleito. Isto para além de ser (des)governado pelo mesmo partido, o MPLA, desde 1975, também membro da Internacional Socialista

Não está mal. Angola é uma ditadura? Formalmente não, de facto sim. Mas o que é que isso importa à CPLP, à UA, à ONU, se tem petróleo, que é um bem muito – mas muito - superior aos direitos humanos, à democracia, à liberdade, à cidadania, à justiça social?

Reconheça-se, contudo, que a hipocrisia não é uma característica específica de Portugal, se bem que nas ocidentais praias lusitanas tenha alguns dos seus mais latos expotentes. O Brasil afina pelo mesmo diapasão e os restantes membros da CPLP nem voto têm na matéria.

A hipocrisia internacional é de tal ordem que a própria UNESCO, por exemplo, projectou atribuir um prémio patrocinado pelo Presidente da Guiné-Equatorial, Teodoro Obiang Nguema, mais um dos grandes ditadores da actualidade.

Vê-se, por aqui, que a própria agência das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura chegou a equacionar dar cobertura a um dos mais infames ditadores mundiais, apesar de só estar no poder há... 31 anos. Mas tem petróleo e preside à União Africana. É obra!

E como Angola tem petróleo (grande parte roubado na sua colónia de Cabinda), ninguém se atreve a perguntar a José Sócrates e a Cavaco Silva se acham que Angola respeita os direitos humanos ou se é possível que a presidência da CPLP seja ocupada por um país cujo presidente está no poder há 31 anos, sem ter sido eleito.

Mas, se a Tunísia, tal como a Argélia, o Egipto, a Líbia, a Venezuela ou a China, podem ser os grandes parceiros do socialismo lusitano, mesmo que os seus líderes sejam hoje bestiais e amanhã umas bestas, porque carga de chuva não se poderá dar o mesmo estatuto a Angola?

Provavelmente, José Eduardo dos Santos vê no que dizem de Ben Ali e de Hosni Mubarak o que dele dirão um dia destes os seus actuais amigalhaços. Creio que essa constatação nem sequer preocupa o dono de Angola, não só porque não acredita que o povo seja capaz de o deitar abaixo, como sabe que se um dia tiver de fugir não será para Portugal, mau grado ser quase dono das ocidentais praias lusitanas.

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