quarta-feira, março 23, 2011

Na hora da despedida, a minha humilde e (bem) sincera homenagem a José Sócrates

Em Portugal, importa ir relembrando, seja, ou não, a propósito das ditas “coligações negativas” ou das “campanhas negras” contra José Sócrates, do P(R)EC ou do tango, o Estatuto do Jornalista aprovado pelo PS de José Sócrates, foi, é e será por muitos anos a página mais negra na história do Jornalismo português do pós-25 de Abril.

Apesar dos sucessivos apelos, incansáveis iniciativas e documentos de esclarecimento e de aviso para os graves erros e riscos, o governo de José Sócrates & Companhia foi insensível aos argumentos e posições dos Jornalistas.

Dos Jornalistas. Não dos mercenários contratados para dirigir alguns órgãos de comunicação social, mesmo que tenham carteira profissional.

O PS de José Sócrates foi incapaz de gerar um Estatuto consensual (até no Parlamento), no qual os jornalistas portugueses se revissem e reconhecessem como instrumento legal fundador de um jornalismo mais livre e mais responsável.

Aliás, liberdade e responsabilidade não se enquadram neste PS de José Sócrates.

O Estatuto aprovado não garante mais a protecção do sigilo profissional dos jornalistas. Pelo contrário, diminui tais garantias, ao elencar um conjunto de circunstâncias em que esse direito-dever pode ceder, bastando aos tribunais invocar dificuldade em obter por outro meio informações relevantes para a investigação de certos crimes.

Assim (e o PS lá sabe as suas razões…), os poucos jornalistas que restam – são mesmo poucos - enfrentarão maior resistência de fontes confidenciais que poderiam auxiliar a sua investigação de fenómenos como o tráfico de droga e até, como se insinuou nos debates, de corrupção, entre outros crimes que os profissionais da informação têm o direito e o dever de investigar e denunciar.

A falta de garantias de autonomia editorial e de independência e os riscos deontológicos criados pelo Estatuto socialista comprometem a aceitação, pelos jornalistas, de um regime disciplinar que é injusto porque aplicável num contexto de fragilidade, no qual não estão em plenas condições de assumir livremente as suas responsabilidades.

O Estatuto socialista não cria condições para uma efectiva autonomia editorial e independência dos jornalistas (e o PS lá sabe as suas razões…), antes as agrava, fragilizando ainda mais a posição destes profissionais face ao poder das empresas, grande parte delas nas mãos dos amigos do PS.

Também neste matéria, o PS de José Sócrates quis e certamente continuará a querer, acabar com todos os jornalistas de segunda, ou seja, todos aqueles que não eram do... PS. E a partir de agora são cada vez mais os que, na perspectiva de irem comer a outra gamela, vão guardar o cartão do Partido Socialista.

E são estes mesmos que já afiam as navalhas para apunhalar, pelas costas, o “líder carismático” do PS. É vê-los agora a pontapear a imagem de José Sócrates, negando a pés juntos e pela alma da santa mãe que sempre foram contra ele.

Como o sumo pontífice corre agora o risco de passar de bestial a besta, a carneirada do costume já diz que se fez alguma coisa de errado foi por ter sido obrigada e, é claro, já aparece a dizer que Pedro Passos Coelho é que é bom.

É mesmo assim. Mudam-se os donos, mudam-se as vontades. Tarefa, aliás, fácil para quem já nasceu sem coluna vertebral. Muitos estão já hoje a cuspir no prato que lhes deu tanta comida. Mas o que seria de esperar de tantos analfabetos funcionais (sabem ler e escrever mas não lêem nem escrevem)?

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