domingo, março 13, 2011

E os 70% de angolanos miseráveis vão passar a fazer visitas aos caixotes do lixo do Continente

Diz o jornal Sol que a empresária Isabel dos Santos (filha, recorde-se, daquele que é o presidente de Angola há 32 anos sem nunca ter sido eleito) deverá ser a accionista maioritária na rede de hipermercados da Sonae em Angola, cujo arranque deverá anunciado nas próximas semanas.

São boas notícias para as partes envolvidas. As coisas, apesar de tudo, não terão corrido tão bem como o inicialmente previsto, isto porque o presidente da Sonae, Paulo Azevedo, anunciou há um ano (dia 17 de Março de 2010) que a entrada da empresa no mercado angolano poderia acontecer já em 2010.

Angola é um dos países lusófonos com maior taxa de mortalidade infantil e materna e de gravidez na adolescência, segundo o mais recente relatório das Nações Unidas.

Mas o que é que isso importa no âmbito dos negócios entre Isabel dos Santos (filha, recorde-se, daquele que é o presidente do MPLA) e a Sonae?

Importante é saber de facto que a Sonae vai avançar com o lançamento, entre outras iniciativas, dos hipermercados Continente em Angola, mesmo sabendo-se que o regime é um dos mais corruptos do mundo. Ou será por isso mesmo?

E se Belmiro de Azevedo chamou ditador a Cavaco Silva não sei o que chamará a José Eduardo dos Santos. Mas isso é irrelevante porque, desde logo, quem manda na Sonae é Paulo Azevedo e o que importa é o "Hello tomorrow" (olá amanhã), rapidamente e em força para... Angola.

Em cada mil crianças nascidas em Angola, 131 morrem antes de atingir o primeiro ano de vida, a taxa mais elevada entre os países lusófonos e de toda a África Austral.

Mas o que é que isso importa no âmbito dos negócios entre Isabel dos Santos (filha, recorde-se, daquele que também é o chefe do Governo) e a Sonae?

De acordo com o relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), numa escala de 0 a 100, Angola apresenta um índice de desigualdade entre ricos e pobres de 58,6, os mais pobres (perto de 70% da população) têm uma taxa de consumo de 0,6 por cento enquanto a dos ricos é de 44,7 por cento.

45% das crianças angolanas sofrem de má nutrição crónica, uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos. Mas o que é que isso importa?

76% da população vive em 27% do território. Mais de 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros; mais de 90% da riqueza nacional privada foi subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população de cerca de 18 milhões de angolanos.

Mas o que é que isso importa? Sim! O que é que isso importa?

Aliás, muitos dos angolanos (70% da população vive na miséria) que raramente sabem o que é uma refeição, poderão certamente fazer incursões ao Continente, ou melhor, aos caixotes do lixo do Continente e lá encontrar restos quase novos de comida.

Portanto... não se queixem. A Sonae não é uma empresa filantrópica e, por isso, negoceia com os donos do poder e, no caso de Angola, do país. E, como sempre, é muito mais fácil negociar com dirigentes vitalícios do que com os que resultam de uma vida democrática.

Também é verdade que se a comunidade internacional não se preocupa com o facto de, em Angola, poucos terem cada vez mais milhões e cada vez mais milhões terem pouco ou nada, porque carga de chuva deveria ser a Sonae a preocupar-se?

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