domingo, maio 22, 2011

Em Portugal os critérios editoriais são,
cada vez mais, novas formas de censura


“Assisti a uma palestra no Instituto Superior de Línguas e Administração onde Orlando Castro foi um dos oradores. Achei que era um profissional admirável e que provavelmente o JN seria pequeno para si.”

Esta mensagem fez-me recordar uma outra, recebida no dia 4 de Abril de 2009 e que dizia: “Só agora ao saber do despedimento colectivo de 119 trabalhadores do JN, DN, 24 Horas e O Jogo é que vi o alcance das suas palavras quando, no dia 19 de Novembro de 2007, participou nas conferências do “Milénio da Comunicação”, realizadas pelo ISLA – Instituto Superior de Línguas e Administração, em Vila Nova de Gaia”.

E então o que foi que eu disse nessa palestra? Aqui está o que sobre o assunto foi dito por Anabela da Silva Maganinho no blogue Milénio da Comunicação:

«Orlando Castro marcou presença, na passada segunda-feira (dia 19), pelo “jornalista intermediário com cabeça pensante”, no Instituto Superior de Línguas e Administração (ISLA), de Vila Nova de Gaia, visando a primeira palestra da iniciativa “Milénio da Comunicação”.

Sem tema pré-determinado, o jornalista do Jornal de Notícias (JN) destacou assuntos que circunscrevem a prática jornalística actual. “O jornalismo está em extinção; estamos a ser substituídos pelos produtores de conteúdos”, assevera Orlando Castro no discurso introdutório.

A actividade jornalística é condicionada pelas empresas que “são apenas empresas” e, para estas, “o que importa não é o que é, mas sim o que vende”. “Hoje temos de dizer o que a empresa diz que é verdade” é essa a verdade que se instaura no panorama hodierno. Por isso mesmo, atenta-se que “não é preciso gente que pense, é preciso gente que faça”, como revela Orlando Castro ao assumir que “estamos a descertificar a informação” e que os jornalistas “vão ser como as mercearias que foram cilindradas pelos supermercados”.

Numa época em que se fala cada vez mais na não-credibilidade do jornalista e da sua actividade, o jornalista do JN convive com a realidade que nos afecta: “os jornais estão em quebra, porque não têm quem certifique informação e as pessoas deixam de acreditar”, afirma.

O jornalista como intermediário “com cabeça pensante, não vai perdurar” é o que constata Orlando Castro perante o mundo em que os “critérios editoriais são novas formas de censura” e “o que se faz hoje é ampliar a voz dos que já a têm”.

As dúvidas são filhas da inteligência e, dessa forma, é que confessa ter dúvidas, “muitas dúvidas do que é isenção em jornalismo”, tanto que chega a colocar uma pergunta retórica: “mas o jornalismo sério faz-se onde?”.

Para os que ainda têm dúvidas o jornalismo pode ser concebido de distintas formas porque “há mil e uma maneiras de dar informação”. É certo que em muitas empresas, que, não raras vezes, intentam sobre o lucro, “a informação é estimulada num determinado sentido com uma contrapartida”; e, “enquanto não forem mudados os estatutos ligados à empresa da comunicação, o jornalista não vai a lado nenhum”.

Orlando Castro desmistificou a visão utópica do jornalismo e, ainda que, para muitos dos presentes, tenha pintado um “quadro negro”, a verdade é que escreveu a obra do real de um jornalista “frustrado”, mas que persiste na luta pelo jornalismo que “é dar voz a quem a não tem”. »

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