segunda-feira, julho 18, 2011

Diz a RTP, numa cacha mundial, que São Tomé e Príncipe foi integrado na Guiné...

A Aliança das Agências de Informação de Língua Portuguesa organiza amanhã a sua 23ª Assembleia-Geral, que discutirá o estado actual das entidades bem como outros assuntos do interesse das agências.

Calculo que na rubrica dos “assuntos do interesse das agências” caberá, como aliás é seu dever, a forma de melhorar as acções de propaganda a favor dos respectivos regimes ou governos.

A reunião decorrerá em Luanda, e contará, além da agência portuguesa Lusa, com representantes de Brasil, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Timor-leste.

Mas que a informação na Lusofonia está cada vez melhor (isto é como quem diz), não restam dúvidas. Ainda há pouco o meu amigo Eugénio Costa Almeida escrevia no seu Pululu: “Hoje na RTP-África, no programa Repórter, fiquei a saber que São Tomé e Príncipe passou a ser parte integrante da Guiné-Bissau”.

E explica: “Nas notas de rodapé do referido programa passava a mensagem “PRESIDENCIAIS NA GUINÉ-BISSAU os candidatos Manuel Pinto da Costa…”; e não foram poucas as vezes até ao final do referido programa”.

E por falar no Eugénio Costa Almeida, recordo que de vez em quando ele vai arames, como aconteceu, por exemplo, em Setembro de 2008, por lido no portal da RTP que o naufrágio do navio "Le Joola", em que faleceram 1.863 pessoas, em Setembro de 2002, se deu na costa da Zâmbia.

E foi aos arames porque, tanto ele como eu (e se calhar poucos mais haverá) pensávamos que a Zâmbia não tinha costa.

No nosso tempo, a Zâmbia era um país interior de África, limitado a norte pela República Democrática do Congo e pela Tanzânia, a leste pelo Malawi, a sul por Moçambique, Zimbabué e Namíbia e a oeste por Angola.

Acontece que segundo o montador da Lusa (Jornalista não era com certeza, mais hoje até será talvez director ou administrador) que escreveu a notícia, reproduzida pela RTP e por muitos outros meios onde o copy-past é a mais recente vocação jornalística, a geografia mudou.

Ficamos, a partir de então, a saber que a Zâmbia tem costa, tal como em tempos ficámos a saber que a terceira causa de morte em Moçambique era a queda de cocos, ou que o Caminho de Ferro de Benguela “liga esta cidade à Luanda Norte, centro de prospecção de diamantes...“

Eu sei que, bem vistas as coisas, esses países ficam lá longe, muito longe. Além disso são habitados por negros, espécie que pelos vistos só conta quando tem petróleo e similares. De qualquer modo, não seria mau (apesar de serem todos negros) dizer que o naufrágio foi um pouco, um pouquinho ao lado da Zâmbia. Foi na Gâmbia.

Mas, de facto, não há nada melhor do que aprender com quem sabe. Há cerca de um ano, a Lusa escrevia: “Em Angola, o Presidente da República Portuguesa vai estar com os empresários que o acompanham na inauguração da Feira Internacional de Luanda (FILDA), onde estão pelo menos mais uma centena de homens de negócios portugueses, e ainda nas viagens ao Lubango (província de Benguela) e a Lobito (província da Huila).”

Dizem-me que, tal como noutros tempos, o Lubango continua a situar-se na Huila e o Lobito em Benguela. Será?

Legenda: Eugénio Costa Almeida em conversa comigo durante o lançamento, em Lisboa, do meu livro sobre Cabinda.

2 comentários:

Sara - Cabinda disse...

… também foi do Eugénio C Almeida q ouvi q a FLEC (Frente de Libertação do Estado de Cabinda) foi criação do Mobutu (antigo ditador da RDC ex-Rep do Zaïre). Por não saber? Engano? Malícia? Ou querer agradar (a quem)?

ELCAlmeida disse...

Não foi malícia, não foi engano e nem quis, nem quero agradar a ninguém.
A fonte que não posso publicamente identificar, na medida em que a mesma tem um cargo institucional elevado e na altura também já o tinha, confirmou e atestou essa informação.
É certo, e aqui penitencio-me pelo desconhecimento, que a FLEC terá sido criada ainda nos anos 60 por iniciativa de maquis cabindenses.
Mas também é certo que esse movimento esteve muitos anos adormecido e só foi reactivado - e eu aqui só sabia esta parte - por Mobutu em conversa com o seu colega do Congo-Brazza, Marien Ngouabi, quando decidiram dividir a província (lamento mas sou angolano total) de Cabinda entre os dois países.
Espero que tenha ficado elucidada.
Admito que haverá outras visões da história e que as respeito.
Cumprimentos
(e obrigado meu caro Orlando por permitires este desabafo)
Eugénio Costa Almeida