sábado, agosto 13, 2011

Dada a sentença, urge encontrar
a matéria de facto que a sustente!


O Governo português anunciou hoje os super-especialistas (na equipa de Passos Coelho todos são super qualquer coisa) que vão definir o conceito de serviço público de Comunicação Social.

Por outras palavras, estes supostos peritos dos peritos têm dois meses para justificar o veredicto já traçado: o fim desse mesmo serviço público.

De acordo com o despacho do Executivo, "o grupo de trabalho pode efectuar, junto de entidades públicas e privadas dos vários segmentos do sector da Comunicação Social, as consultas que considerar indispensáveis para a realização da sua tarefa".

É uma boa forma para dar alguma legalidade, algum ar de seriedade, à subversão das regras de um Estado de Direito, que Portugal é cada vez menos. Ou seja, o Governo deu a sentença, agora os “advogados” têm de descobrir matéria de facto que a valide.

O grupo de super-especialistas será coordenado pelo economista João Duque, conta ainda com António Ribeiro Cristóvão, Eduardo Cintra Torres, Felisbela Lopes, Francisco Sarsfield Cabral, João do Amaral, José Manuel Fernandes, Manuel José Damásio, Manuel Villaverde Cabral e Manuela Franco.

Como se vê, são tudo pesos pesados a quem não faltará engenho e arte para justificar a tese pretendida. Já que se fala de comunicação social, é mais ou menos como escrever a manchete e depois pedir aos operários da redacção um texto que a suporte.

"O país tem de agir com rapidez. Não temos tempo a perder”, diz  Miguel Relvas. “O país precisa de reformas, as reformas têm de ser feitas. Estamos a pedir sacrifícios aos portugueses e os sacrifícios têm de valer a pena. E esses exemplos terão que ser dados na eficiência da gestão", acrescentou no final de uma visita à agência Lusa, empresa onde o Estado detém uma participação de 50,1 por cento.

Miguel Relvas esteve reunido com Afonso Camões, ex-administrador da Controlinveste e actual presidente da Lusa, exactamente para aprender como é que as coisas se fazem.

E se ouviu bem… não precisa de mais nada para saber como tudo deve ser feito. Recordam-se, por exemplo, que quando foi falar à Comissão de Ética, Sociedade e Cultura do Parlamento, a propósito do encerramento das delegações da Lusa, Afonso Camões foi taxativo ao afirmar: "Não fechámos, mas vamos fechar. É assim que eu quero e é assim que vai ser".

É por estas e por outras que, no reino lusitano, a liberdade de imprensa está em vias de extinção (eu sei que sou optimista).

Se os donos dos meios de comunicação, se os donos dos donos, assim querem “é assim que está a ser, é assim que vai continuar a ser”.

Há sempre quem não concorde com essa tese do “é assim que eu quero e é assim que vai ser”. É por isso que há tantos jornalistas desempregados, outros que mudaram de profissão, outros que estando no activo estão na prateleira, outros que tendo emprego estão desempregados, outros que adoptaram uma coluna vertebral amovível, outros que se filiaram no partido para garantir o emprego, outros que em vez de erectos andam de cócoras, outros que por um prato de lentilhas dizem ámen a tudo.

Mas contra factos não há argumentos. E é um facto que este governo é o que mais super-especialistas tem por metro quadrado. E quando um país tem o raro privilégio de ter super-cidadãos num executivo que é dono da verdade, a única solução é comer e calar.

É assim que eles querem, é assim que foi e é assim que será.

Nunca como agora  ser imbecil e criminoso foi condição sine qua non para ser “jornalista” mas, sobretudo, para ser director e até administrador. Isto já para não falar em ser deputado, assessor, especialista ou membro do Governo.

É por isto tudo que os jornalistas, entre outros, não devem perguntar o que o Estado/país/bordel pode fazer por eles, mas sim o que eles podem fazer pelo bordel/país/Estado.

E o que melhor podem fazer é aceitar que para terem emprego, serem um dia directores ou administradores de um jornal, têm de ser criados do poder.

Em Portugal, é não só legal como nobre o facto de o servilismo ser regra para bons empregos, garantindo que esses servos vão estar depois a assessorar o partido, empresas ou políticos.

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