terça-feira, agosto 16, 2011

Do Tibete a Cabinda, passando
pela cobardia do reino lusitano

Um monge tibetano morreu após imolar-se pelo fogo na província chinesa de Sichuan, em protesto contra a ocupação do Tibete pela China.

Este foi o segundo incidente do género este ano na região. O monge Tsongwon Norbu, tinha 29 anos.

De acordo com um comunicado da organização Free Tibet, sedeada em Londres, o monge bebeu gasolina e despejou o produto pelo corpo e túnica, incendiando-se de seguida.

Antes de morrer, o monge gritou "Longa vida ao Dalai Lama" e outros slogans de protesto a favor do líder religioso tibetano no exílio.

Em consequência da imolação, as autoridades chinesas cercaram o mosteiro tibetano, e cortaram o seu abastecimento de víveres, água e electricidade, situação que se mantém há dois dias, indicaram testemunhas à AFP.

"Há pelo menos mil soldados e polícias destacados em volta do mosteiro e cerca de 100 monges no seu interior", declarou um religioso.
No passado dia 16 de Julho, o presidente norte-americano, Barack Obama, manifestou uma "preocupação sincera" sobre os direitos humanos no Tibete.
Pois é. Não sem quantos pesos, não sei quantas medidas. Saberá Barack Obama o que é Cabinda? Não sabe, com certeza. Se até o presidente do país que assinou um acordo de protectorado com Cabinda não sabe…
Barack Obama é "o presidente da maior democracia e, naturalmente, manifestou a sua preocupação com os valores humanos fundamentais, com os direitos humanos e com a liberdade religiosa", disse o líder espiritual dos tibetanos.
Recorde-se que, segundo o conselheiro jurídico e político do líder tibetano, Michael Van Walt, a proposta de autonomia apresentada pelo Dalai Lama à China "é muito parecida à que José Ramos-Horta propôs à Indonésia" em 1995-96.
Michael Van Walt considera também que o que aconteceu na última década em Timor-Leste e no Kosovo "tornou as coisas mais difíceis para o Tibete".
Segundo o conselheiro do Dalai Lama, que tem uma larga experiência internacional e foi também assessor jurídico do Ministério dos Negócios Estrangeiros timorense, a proposta de autonomia da chamada "frente diplomática" foi apresentada a Jacarta "cerca de dois anos antes da grande crise na Indonésia" (em 1997).
No que a Cabinda respeita, Portugal não se lembra dos compromissos que assinou ontem e, por isso, muito menos se recordará dos assinados há 126 anos. E, tanto quanto me parece, mesmo os assinados ontem já estarão amanhã fora de validade.
Portugal não só violou o Tratado de Simulambuco de 1 de Fevereiro 1885 como, pelos Acordos de Alvor, ultrajou o povo de Cabinda, sendo por isso responsável, pelo menos moral (se é que isso tem algum significado), por tudo quanto se passa no território, seu protectorado, ocupado por Angola.
Quando o presidente da República de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, diz que Angola vai de Cabinda ao Cunene está, desde logo, a dar cobertura e a ser conivente, como acontece com a China em relação ao Tibete, com as violações que o regime angolano leva a efeito contra um povo que apenas quer ter o direito de escolher o seu futuro.
Para além do Tibete, não seria mau que Portugal olhasse para Espanha e Angola para Marrocos. Ou seja, para a questão do Saara Ocidental, antiga colónia espanhola anexada em 1975 após a saída dos espanhóis, como parte integrante do reino de Marrocos que, entretanto, propõe uma ampla autonomia sob a sua soberania, embora excluindo a independência.

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