terça-feira, agosto 23, 2011

Nem os caixotes do lixo os vão salvar

O super (como são todos) secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro avisou hoje que Portugal está no bom caminho mas ainda tem “muito trabalho pela frente”.

Tem razão. Todos os que conseguem deixar metade de almoço para comer ao jantar, e metade deste para o almoço do dia seguinte, estão no bom caminho. Não tardará muito e até já conseguirão viver sem comer…
“Vamos ter um mês de Setembro muito complicado”, alertou Carlos Moedas, referindo que até Setembro o governo deverá pôr em prática “75 medidas” nas quais está a trabalhar desde Junho. Entre Junho e Julho já foram postas em prática 22 dessas medidas, adiantou Moedas.
Quanto não vale ter super especialistas no governo! É que a  populaça não tem capacidade, engenho ou arte para pôr em prática mais do que duas ou três medidas. A saber: escolher que medicamentos pode aviar, fazer contas para saber em quantas partes vai dividir a sardinha, e procurar comida nos caixotes do lixo mais distantes… porque ainda tem vergonha na cara.
“Como pessoa não posso garantir que não vou falhar mas a equipa vai fazer tudo e é uma equipa com técnicos do melhor que há e estão a fazer tudo que é pedido pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional”, referiu o super secretário de Estado.
Como pessoas, embora estejam a fazer tudo o que lhes é pedido, os portugueses não podem garantir que a família vá ter comida nos pratos, que continue a haver electricidade em casa, que não tenham de ir viver para debaixo da ponte.
Podem, contudo, garantir que vasculhar nos caixotes do lixo não é vida, pelo que se calhar o seu legítimo direito à indignação lhes confere legitimidade para assaltar lojas ou, até, para enveredar pela tese do olho por olho, dente por dente.
Se forem presos sempre terão direito a comida e cama, se ficarem cegos continuarão a “ver”, como agora, os pratos vazios. Se ficarem desdentados a diferença será ténue, até porque os dentes servem sobretudo para algo que eles fazem cada vez menos – comer.

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