sábado, agosto 13, 2011

Os bons e os maus, os maus e os bons


O presidente dos EUA, Barack Obama, e o primeiro-ministro britânico, David Cameron, pediram o "fim imediato do banho de sangue" na Síria, segundo um comunicado da Casa Branca citado pela agência de notícias France Presse.

Qualquer boa democracia, como se diz serem os casos dos EUA e do Reino Unido, tem uma listagem dos ditadores bons e dos ditadores maus, dos terroristas bons e dos terroristas maus. Sendo ainda certo que os maus de hoje foram os bons de ontem, e os maus de ontem serão os bons de amanhã.

Durante uma conversa telefónica entre os dois chefes de Estado, Obama e Cameron expressaram a sua "profunda preocupação com o uso da violência pelo governo sírio contra civis" e a sua "crença na necessidade de responder à exigência legítima de transição democrática expressa pelo povo sírio", afirma a nota de imprensa da Casa Branca.

Mas como nem todas são boas democracias, o ministro dos Negócios estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, considerou não há muito tempo (no passado dia 28 de Março), que o apoio militar da coligação internacional aos rebeldes líbios era uma "ingerência" nos assuntos internos da Líbia.

É também desde Março que a contestação contra o presidente sírio Bashar al-Assad já fez 1800 civis mortos, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Todo o mundo sabe há muito, muito tempo, que Bashar al-Assad não era flor que se cheire.

Mas o cheiro, o mesmo cheiro, já tem décadas e isso nunca incomodou os donos do mundo, tal como não os incomoda que o presidente de Angola, há 32 anos no poder sem ter sido eleito, tenha 70 por cento da população na pobreza.

"Consideramos que a ingerência da coligação numa guerra que, no fundo, é interna, civil, não foi sancionada pela resolução do Conselho de Segurança da ONU", que previa o recurso à força para proteger os civis contra a repressão do regime do coronel Muammar Kadhafi, declarou então Lavrov.

E é verdade. A missão seria, supostamente, para proteger civis e não para ajudar civis a derrotar militarmente o ditador. É claro que, todos sabem, civis com armas ao lado de Kadhafi são terroristas, civis com armas do outro lado são heróis.

"A defesa da população civil continua a ser a nossa prioridade", disse Lavrov, mas acrescentou: "há uma diferença sensível entre ataques aéreos contra os meios de defesa anti-aéreos líbios e contra colunas de tropas" fiéis ao dirigente da Líbia.

Serguei Lavrov reconheceu a legitimidade da entrega do comando da operação à NATO, mas voltou a sublinhar que as operações militares deveriam exclusivamente visar a protecção da população civil.

No caso da Síria, como no da Líbia, é de facto uma chatice. Bem que Kadhafi e Bashar al-Assad poderiam ter resolvido a questão de outra forma, fazendo o mesmo que os seus homólogos do Egipto e da Tunísia.

Mas como são teimosos... lá têm os donos do mundo de pegar na listagem dos bons e dos maus para saberem quem iriam matar.

Não deixa, contudo, de ser curioso que embora consideram agora Bashar al-Assad e Kadhafi exemplos de todos os males, não se atrevam a fazer na Síria o que tão lestamente fizeram na Líbia.

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