quinta-feira, agosto 11, 2011

Os donos e os donos dos donos

Foi com a publicação, aqui no Alto Hama, em 31 de Agosto de 2006, do texto («(Re)flexões (+ ou -) sobre Jornalismo (I)»), que os donos do poder em Portugal traçaram o meu destino profissional.

Uns porque se julgam (e têm sido) os donos da verdade, outros porque da verdade se julgam (e têm sido) os donos.
Nesses tempos, e já em 2001 na minha página pessoal, bem como ainda hoje, era um acto de suicídio escrever que “se não for possível deixar às gerações vindouras algum património, ao menos lutemos, nós os Jornalistas, para lhes deixar algo mais do que a expressão exacta da nossa incompetência e cobardia, visível quando a subserviência substitui a competência”.
Alguns anos depois, a incompetência, a cobardia e a subserviência continuam a florescer e a ser uma mais-valia decisiva para quem quiser singrar numa relevante parte da comunicação social portuguesa.
“Porque não há (digo eu na minha santa ingenuidade) comparação entre o que se perde por fracassar e o que se perde por não tentar, cá estou mais uma vez (já lhes perdi a conta) a tentar o impossível já que - reconheçamos - o possível fazemos nós todos os dias”, escrevia eu num exercício de pregação para uma classe profissional surda, muda e cega.
Já nessa altura eu interrogava: “Não será este texto um (mais um) exercício de mero suicídio?”
Em 2001 era uma dúvida, em 2006 uma interrogação, em 2009 uma certeza e hoje uma confirmação.
Mesmo “suicidado”, continuo a pensar que se o Jornalista não procura saber o que se passa no cerne dos problemas que o rodeiam é, com certeza, um imbecil. Também penso que se o Jornalista consegue saber o que se passa mas, eventualmente, se cala é um criminoso.
Por não querer ser criminoso fui, com muitos outros, abatido. A bem, acrescente-se, de uma nação cujos dirigentes actuais, tais como os do antigamente, quando ouvem falar de liberdade de expressão puxam logo da pistola.
Acresce, para mal dos nossos pecados (digo eu), que a precariedade profissional de muitos os obriga a aceitar fazer tudo o que o «chefe» manda (mesmo sabendo que este para contar até 12 tem de se descalçar). E mesmo assim...
Também escrevi aqui que não há restrições directas à Internet, acrescentando que as indirectas, essas existem e aumentam de volume e são do tipo, “enquanto escreveres no teu blogue o que escreves está fodido”.
Nem de propósito. Não esqueço, por exemplo, que recebi mais um “não” (já perdi a conta aos “nãos”) a uma tentativa de emprego numa entidade onde, aliás, sou conhecido por durante os 18 anos de jornalismo ter ajudado (modestamente, é certo) a fazer do Jornal de Notícias o primeiro dos primeiros.
Começa, aliás, a ser aborrecido ouvir sempre o mesmo tipo de explicação: “Seria a pessoa indicada para o lugar... mas essa mania de dizer o que pensa ser a verdade em nada ajuda. Veja se modera as críticas”.
Como não as moderei, nem tenciono mudar, estou há mais de dois anos a tentar aprender a viver sem comer (desemprego). Está a ser uma missão impossível, desde logo porque sei que quando estiver bem perto de saber viver sem comer... morro.
Bem dizia em Maio... de 2009, o bispo de Viseu, D. Ilídio Leandro, a propósito do Dia Mundial das Comunicações Sociais, que “há muitos jornalistas que estão ao serviço do director e não da verdade”. E esses têm o emprego seguro, bem seguro.
Embora as declarações do bispo de Viseu fossem  graves, tudo ficou na santa paz de Deus. Ou não fosse Portugal um país onde os Jornalistas são dos que mais brandos costumes têm. O “jornalismo” em Portugal atingiu em alguns casos um tal estado de descrédito que já ninguém se preocupa. Num sistema de vale tudo, pouco importa se o jornalismo virou propaganda e apenas é mais uma linha de enchimento comercial.
A situação descrita pelo bispo não era, não é, nem será  nova, mas tenderá a agravar-se enquanto existir um Jornalista que não se submeta à cirurgia de remoção da coluna vertebral, imposta de forma camuflada pelos donos dos jornalistas e pelos donos dos donos dor jornalistas.
É claro que os órgãos de soberania, nomeadamente o governo, os partidos e os deputados poderiam alterar a situação. Mas nada fazem porque este é o modelo de “informação” que querem. É o modelo que em vez de dar voz a quem a não tem, amplia a voz dos que têm acesso a tudo. É o modelo que em vez de lutar pelos milhões que têm pouco ou nada, luta pelos poucos que têm milhões. É, portanto, um modelo feito à medida e por medida.

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