segunda-feira, setembro 26, 2011

Vivam sem comer e morram sem dar despesas

Quatro em cada dez portugueses admitem fazer cortes no orçamento familiar para poderem comprar medicamentos em resultado do novo regime de comparticipação dos fármacos.

Dito assim, até parece que os portugueses o fazem de livre vontade. Mas, na verdade, eles são obrigados a isso, tal como são obrigados a outros cortes, desde logo optando por aprender a viver sem comer.

O barómetro "Os portugueses e a saúde", que será divulgado amanhã, revela que os cortes na compra de medicamentos passaram de 4,5% para 14,5%.

Segundo o estudo, cujo conteúdo nunca será lido pelos ministros deste governo (por óbvia, entenda-se, falta de tempo), 1,2 milhões de portugueses afirmam que tais cortes implicarão deixar na farmácia alguns dos medicamentos necessários, sendo a população idosa, não activa, com níveis de instrução mais baixos a mais atingida com tal medida.

E tudo se deve, lamentavelmente, ao facto de os portugueses ainda não terem percebido os nobres, altruístas e beneméritos intentos do Governo quando sugere (impõe, vá lá) que os cidadãos vivem sem comer e morram sem ficar doentes.

Nesta altura, se calhar os portugueses estão tentados a dizer que estão entregues à bicharada. Mas não é assim. Desde logo porque a bicharada não gosta de se alimentar de corpos esqueléticos, famintos e em estado terminal.

Acresce que, mais uma vez bem, o Governo continua a dar sobejos exemplos de que também está a apertar o cinto. Convém não esquecer, por exemplo, que os membros da equipa de Passos Coelho também faz greve de fome para ajudar a pôr o país em e na ordem. É claro que só o fazem entre as refeições, mas já é alguma coisa.

Recordam-se de a então ministra da Saúde de Portugal, Ana Jorge, ter apelado no dia 2 de Junho do ano passado às famílias portuguesas para fazerem “sopa em casa” em vez de gastarem em “fast food”, aproveitando a necessidade de contenção económica e como forma de combater a obesidade?

“É bom que as pessoas deste país tenham a noção que a obesidade implica um tratamento sério e alteração de comportamentos, desde que se nasce, ou melhor, até durante a gravidez”, realçou a então ministra (hoje deputada), acrescentando que “é necessário modificar os comportamentos alimentares e de sedentarismo que as pessoas estão a ter” em Portugal.

Melhor do que comer sopa é, e um dia destes ainda vamos ver o actual primeiro-ministro a falar disso, fazer o mesmo que o indiano Prahlad Jani que – diz ele e até tem testemunhas ditas credíveis - não come nem bebe há mais de 70 anos.

Até agora, sobretudo porque os portugueses são uns desmancha-prazeres, os resultados em Portugal não são animadores. Todos os que tentaram seguir, por correspondência, o método de Prahlad Jani estiveram muito perto mas, quando estavam quase lá... morreram.

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