segunda-feira, outubro 17, 2011

Farelo para os escravos portugueses

Portugal é o sexto país da União Europeia (UE) com menos produtividade no trabalho no sector da indústria, situando-se abaixo da média dos 27 países, indicam dados agora revelados pelo gabinete oficial de estatísticas da UE, o Eurostat.

Irlanda, Holanda e Áustria são os três países mais produtivos da UE, dizem os números do Eurostat, retirados de um relatório referente a 2010 sobre a competitividade dos Estados-membros, realizado com o intuito de melhorar o indicador e a competitividade da UE "como um todo".

Estónia, Lituânia, Roménia, Letónia e Bulgária são os países que se situam atrás de Portugal na lista que mede o valor acrescentado bruto por trabalhador do sector industrial.

Portugal, diz o Eurostat, beneficiaria com o reforço dos esforços nas áreas da investigação e da inovação, feitos tendo por base uma política integrada de fomento do empreendedorismo.

Será por isso, apenas por isso, que Portugal está empobrecido, não cresce, não enriquece e, pior ainda, não tem potencial de crescimento, nem aposta num novo modelo de desenvolvimento?

Até há alguns meses o PSD dizia que a solução passava por “repudiar todas as receitas que o PS tem estado a adoptar para o país".

É verdade que, nos tempos socialistas, o Estado tomou como pretexto a crise económica para aos poucos e poucos tomar como dependente do Estado tudo o que é empresas, famílias, sociedade civil.

É verdade. Esse é o diagnóstico. E qual é a medicação?

Para Manuela Ferreira Leite, a solução seria “o empreendedorismo” porque, dizia, “só assim se combate o desemprego, só assim se desenvolve o país, só assim se retira a sociedade civil das amarras do Estado".

E foi assim que, no dia 18 de Abril deste ano, o presidente do PSD (Passos Coelho) pediu aos portugueses um voto de confiança e a oportunidade de governar,  sustentando que dos socialistas só pode esperar-se o colapso económico.

Levados na cantiga, os portugueses passaram a Pedro Passos Coelho um cheque em branco.

Na posse do cheque, embora sabendo que o mal da economia portuguesa está nas finanças públicas, o PSD mostrou que, afinal, também tem medo de pegar o touro pelos cornos.

O que andou o PSD a fazer desde então? Até agora tem estado a dormir no que respeita ao bem dos cidadãos e bem acordado quanto toca a sacar-lhes tudo (e que já é tão pouco) o que têm.

Hoje os portugueses já se arrependeram. Sabem agora que cheques em branco são sempre má solução, sobretudo quando os destinatários não têm a honorabilidade mínima. É o caso deste Governo.

Mesmo quando (não) existem, as crises têm sempre duas faces. Também nestes casos, o pão dos portugueses quando cai ao chão tem sempre a manteiga virada para baixo. Se sempre assim foi, porque razão agora seria diferente?

Recordo-me, a este propósito, há um par de anos ter recebido um telefonema de um amigo, empresário no norte de Portugal ligado ao PSD, cuja empresa estava – dizia ele – em crise e que pode ser obrigado a despedir umas dezenas de empregados.

“Se não tiver ajuda do Estado, não tenho outra solução. As vendas tiveram uma quebra substancial, tenho dificuldades em receber o que vendo, por isso não há alternativa”, contou-me ele.

“Mas não foi contratado um director para procurar uma saída, uma alternativa? Não é mesmo possível aguentar o pessoal, procurando criar novos produtos, descobrir novos nichos de mercado?”, perguntei eu com a ingenuidade própria de quem nada percebe de empresas.

“O novo director apenas conseguiu constatar que a crise existe e que a solução para reduzir custos é despedir algum pessoal”, disse o meu amigo, lamentando a situação e dizendo-se triste por não ter alternativa.

Afinal, pensei eu, a crise existe mesmo.

Antes de, apesar de tudo, lhe desejar um bom 2009, perguntei-lhe a medo onde iria passar o fim do ano. Pareceu-me uma pergunta descabida, sobretudo atendendo ao contexto da nossa conversa. Mas é daqueles coisas em que só se pensa depois de dizer.

“Já estou em Cuba onde vou passar o fim do ano”, respondeu-me.

“Como? Em Cuba? Mas tu vais para Cuba com a situação em que está a tua empresa, com o cenário catastrófico que acabaste de relatar?”, indignei-me.

“Meu caro, a empresa está em crise, mas eu não estou em crise”, respondeu-me com um tom de voz típico de quem vai gozar à grande e à portuguesa... com os portugueses.

Hoje esse empresário continua bem (a empresa fechou) e dedica-se à política. Se não é conselheiro do Governo é qualquer coisa próxima.

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