sábado, outubro 22, 2011

Savimbi segundo Varennikov e Chiwale

No livro “Irrepetível”, o general russo Valentin Varennikov, que fez duas comissões em Angola em 1982 e 1983, integrando as forças soviéticas, é feito um retrato de Jonas Savimbi. Este “episódio” é também referido por José Milhazes no seu livro “Angola o princípio do fim da União Soviética”:

“Político enérgico, inteligente e esperto, Savimbi, recorrendo ao seu prestígio (o seu prestígio estava ao nível do de Neto, quando estavam juntos na luta de libertação nacional), infiltrou-se em todas as províncias fulcrais, em todos os seus poros: na economia, política, organização militar, ideologia, ciência, cultura, educação.

Em cada província criou uma região militar dirigida por um comandante e um quartel-general. Levou a cabo uma mobilização e formou destacamentos armados. Equipou-os com armas, munições, equipamentos, criou centros de preparação desses destacamentos, nomeou governadores os comandantes das regiões militares que lhe eram pessoalmente fiéis.

Em toda a parte foram criadas empresas, estabelecidos contactos económicos entre as províncias. A fim de reforçar a sua imagem de dirigente e defensor dos interesses dos seus concidadãos, Savimbi dedicava-se pessoalmente à reconstrução de escolas, escrevia manuais para as classes primárias, incluindo um abecedário. Isto não podia deixar de tocar no coração dos pais, principalmente das mães: um abecedário escrito pessoalmente por Savimbi!”

"Cruzei-me com a História" é um livro escrito por Samuel Chiwale, ex-Comandante Geral das FALA – Forças Armadas de Libertação de Angola, o exército da UNITA.

Sobre o presidente fundador da UNITA, mesmo que tendo sido vítima de algumas das suas injustiças, Samuel Chiwale diz:

“O Dr. Savimbi era um verdadeiro fenómeno: um intelectual de mente clara e pensamento profundo. A juntar a isso estava a sua capacidade de, diante de alguém, traçar mentalmente o seu perfil e, em função disso, recorrer ao argumento apropriado para o convencer. Diante de pessoas com esta dimensão, pouco podemos fazer a não ser segui-las. Foi isso que se passou comigo” (Página 60).

Mas nem todos os que privaram com Jonas Savimbi, até mesmo alguns dos que com ele fundaram a UNITA, resistiram à força do MPLA, como recorda Samuel Chiwale. “Miguel N’Zau Puna e Tony da Costa Fernandes haviam sido comprados pelo MPLA por uns míseros milhões de dólares”, (Página 279).

"A UNITA foi vítima de uma política de diabolização, através de mentiras para a desacreditar e afirmar o MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola] como herdeiro da luta de libertação contra a dominação colonial", afirma o general angolano, que atribui a estratégia ao próprio movimento no poder em Angola.

Exemplo disso, adianta o autor de "Cruzei-me com a História", é a associação muitas vezes feita entre a UNITA e a antiga polícia política do Estado Novo, PIDE-DGS, chegando mesmo a afirmar-se que esta tinha participado na criação do movimento e que ambas as estruturas cooperavam durante a Guerra Colonial.

"Quem diz isso ou é maluco ou não sabe o que fala. Se cooperava, porque é que [os combatentes da UNITA] estavam no mato? É um contra-senso", afirma.

Co-fundador da UNITA juntamente com o líder histórico Jonas Savimbi, Chiwale afirma mesmo que, antes da independência, nas áreas de maior implantação do movimento do "Galo Negro" - nomeadamente Bié, Malange, Cuando-Cubango e Lundas - "ninguém ouvia falar do MPLA", identificando como movimento independentista apenas a UNITA.

Chiwale reclama que a o movimento tinha "células clandestinas" em todas as capitais de distrito antes da independência, que tinham como missão "inocular os jovens" e mobilizá-los para a luta na clandestinidade.

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