quarta-feira, outubro 12, 2011

Se não adianta protestar pacificamente…

O risco de conflitualidade está a aumentar em Portugal? Está, sim senhor. E ainda bem.
800 mil desempregados, 20% que ainda vivem (isto é como quem diz) na miséria e outros 20% que a têm à porta de casa, são razões mais do que suficientes.

Esse risco deve-se, segundo o Paulo Pereira de Almeida, ao agravamento das medidas de austeridade e à surdez dos governos perante os protestos (até agora pacíficos) das populações.

"Em Portugal, na generalidade da Europa e até nos EUA, os governos têm desvalorizado a conflitualidade não violenta, mas há um risco desta aumentar e de as populações se sentirem cada vez mais distantes e impotentes perante o que está a acontecer", afirmou à Lusa o professor do Instituto Universitário de Lisboa/ISCTE.

O sociólogo defende que não deve ser desvalorizada a conflitualidade não violenta e lembra que existe um risco de, no limite, vir a nascer um movimento de fundo quase revolucionário que mude o sistema político.

De facto, como não é possível mudar o país (embora os governantes estejam a levá-lo cada vez mais para o Norte de África), é sempre exequível mudar o sistema e os seus protagonistas.

Paulo Pereira de Almeida critica o "autismo" do sistema político em relação aos conflitos sociais e a "falta de consideração" que tem mostrado pela conflitualidade não violenta.

"Os governos assumem que as pessoas têm o direito de protestar, mas mantêm as políticas. O que adianta sair à rua se não somos ouvidos", questionou o sociólogo, manifestando-se preocupado com o agravamento de medidas de austeridade previstas para o próximo Orçamento de Estado (OE) que vai ser apresentado ao parlamento até segunda-feira, dia 17.

Paulo Pereira de Almeida defende que o OE devia reflectir as preocupações de fundo da sociedade e que a Europa devia dar sinais que quer uma estratégia para a criação de emprego por via inclusiva.

"Cada vez mais nos sentimos menos identificados com o sistema político, mas a obrigação deste sistema era ouvir o nosso protesto pois existe, ou foi criado, para isso", advertiu.

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