sábado, novembro 26, 2011

Escravatura no reino lusitano

A troika está a vender aos portugueses, não ao governo de Portugal, gato por lebre. Não é ela que ajuda o país, mas sim o país que sustenta a sua actividade  de agiotagem.

Ou seja, Portugal vai pagar à troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) um montante em juros que equivale a quase metade do dinheiro que o país pode receber ao abrigo dos empréstimos do programa de assistência financeira.

Mas essa é uma realidade que pouco importa aos donos do país, desde logo porque quem paga a crise são os escravos e nunca os seus proprietários.

Se o país prospera, os lucros são para uns. Se dá prejuízo, são outros que pagam a factura. Não foram os escravos que endividaram o país, mas são eles que têm de pagar a conta.

Os portugueses que já há muito estão a aprender a viver sem comer vão, de uma vez por todas, morrer (não terão comida nem assistência médica). Os que ainda dividiam uma sardinha por três vão começar a viver sem comer, substituindo os anteriores. O seu desaparecimento será daqui a alguns meses.

Quando atingir o desiderato, para além de poder culpar D. Afonso Henriques por ter corrido com os mouros e criado o reino lusitano,  os membros do governo sempre poderão colocar no túmulo dos portugueses desconhecidos uma lápide a dizer: Poucos continuam a ter milhões, milhões continuam a ter pouco… ou nada.

Verdade seja dita, contudo, que segundo o Orçamento de Estado para 2012 a eliminação dos subsídios de férias e de Natal não atinge todos os portugueses. Só atinge os que têm emprego e que, de acordo com o Governo, serão cada vez menos. Aliás, já hoje não atinge os 800 mil desempregados, os 20% de miseráveis e os outros 20% de semi-miseráveis.

"O Estado depende em absoluto da assistência externa" e estamos a viver um momento de "emergência nacional", declarou o primeiro-ministro, só faltando dizer – e só não o fez por manifesta benevolência e filantropia – que a culpa é dos portugueses que teimam, embora já não saibam se têm barriga, em viver.

Passos Coelho diz que a terapia proposta é necessária porque, bem vistas as coisas, se o doente vai morrer da cura ou doença, então que morra da doença porque dessa forma se evita gastar dinheiro em medicamentos.

"Temos agora de fazer mais, muito mais, do que estava previsto", acrescentou, negando a possibilidade de "abandonar" o caminho da austeridade, sob pena de sofreremos consequências que levariam o país ao colapso.

Importa realçar o optimismo do primeiro-ministro. Desde logo porque ele diz que acredita que este lugar tão mal frequentado é um país. Por outro porque ainda não descobriu que os portugueses estão, como os malucos, no meio da ponte. Com a diferença de que não há ponte.

"Para contrariar o risco da deterioração económica, incluindo uma contracção profunda e prolongada do nosso produto e do nosso tecido empresarial, o Governo decidiu permitir a expansão do horário de trabalho no sector privado em meia hora por dia durante os próximos dois anos, e ajustar o calendário dos feriados", afirmou o primeiro-ministro.

Ora aí está um coelho (de peluche) retirado da cartola. A pedra filosofal foi descoberta. Está visto (nem José Sócrates se lembraria de tal) que a solução para todos os males de Portugal está em trabalhar mais, ganhar menos, em ter pior assistência médica e transportes, em reformar-se mais tarde (ou nunca), em ser despedido ao preço da chuva.

Mais uma vez,  Pedro Passos Coelho exagerou nas palavras para dizer o que, afinal, poderia resumir numa só: escravatura.

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