terça-feira, novembro 01, 2011

NATO com o rabinho entre as patas

Fortes contra os fracos, fracos contra os fortes. A NATO, depois de ter deposto Muammar Kadafi e de o ter ajudado a matar, recolhe a penates e esquece a Síria.

O Presidente sírio, Bashar al-Assad, não está com meias medidas e pergunta: “Querem outro Afeganistão, ou dezenas de Afeganistões?”

“Qualquer problema na Síria vai afectar toda a região”, avisa  Assad. “A Síria é neste momento a linha de fractura do Médio Oriente. Qualquer intervenção ocidental causará um terramoto”, acrescenta o presidente sírio em entrevista ao jornal britânico Daily Telegraph.

Embora o povo sírio continue a ser morto pela gigantesca máquina de guerra da ditadura de Assad, a NATO tem outras preocupações. Enquanto se viram agora para a divisão dos despojos líbios, os países ocidentais não estão dispostos a levar porrada com uma intervenção similar na Síria.

Mais de 3000 pessoas foram mortas na Síria desde o início dos protestos pró-democracia, em Março.  O porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Rupert Colville, admite que o número de vítimas possa ser muito superior, sobretudo porque ninguém sabe onde param as centenas, ou milhares, de desaparecidos.

E enquanto não arranjam carne local para canhão, o presidente dos EUA, Barack Obama, e o primeiro-ministro britânico, David Cameron, pedem (que grande coragem!) o "fim imediato do banho de sangue" na Síria.

Todo o mundo sabe há muito, muito tempo, que Bashar al-Assad não era flor que se cheire. Mas o cheiro, o mesmo cheiro, já tem décadas e isso nunca incomodou os donos do mundo, tal como não os incomoda que o presidente de Angola, há 32 anos no poder sem ter sido eleito, tenha 70 por cento da população na pobreza.

No caso da Síria, como no da Líbia, é de facto uma chatice. Bem que Kadhafi e Bashar al-Assad poderiam ter resolvido a questão de outra forma, fazendo o mesmo que os seus homólogos do Egipto e da Tunísia.

Kadhafi acabou por, mesmo na morte, ser um aliado dos donos do mundo. Assim ninguém vai saber o que ele poderia dizer sobre os seus anteriores amigos, alguns dos quais, como José Sócrates, o consideravam um “líder carismático”.

Não deixa, contudo, de ser curioso que embora consideram agora Bashar al-Assad um exemplo de todos os males, não se atrevam a fazer na Síria o que tão lestamente fizeram na Líbia.

Qualquer boa democracia, como se diz serem os casos dos EUA e do Reino Unido, tem uma listagem dos ditadores bons e dos ditadores maus, dos terroristas bons e dos terroristas maus. Sendo ainda certo que os maus de hoje foram os bons de ontem, e os maus de ontem serão os bons de amanhã.

1 comentário:

ELCAlmeida disse...

Meu caro, não é tanto uma questão de fortaleza mas de interesse económico.
Uma crise na Síria, além de ser economicamente desinteressante seria outrossim economicamente desastrosa porque seria longa e poderia ter repercussões onde o ocidente menos interesse tem em beliscar...
Kdd
EA