quinta-feira, dezembro 01, 2011

Divagações sobre a indústria do futebol

Introdução: Os jornalistas sabem que é melhor estar de cócoras e ter um prato de lentilhas, do que estar erecto mas de barriga vazia. Sabem que é preferível serem criados do poder e ter dinheiro para pagar ao merceeiro, do que serem honrados profissionais e andarem a mendigar nas esquinas da vida.

1-O presidente do FC Porto comentou a queixa de um jornalista da TVI que disse ter sido agredido no Estádio do Dragão no final do FC Porto-Sp. Braga:  “Se tivesse havido algum problema na bancada da comunicação social, de certeza que os jornalistas não estavam todos a dormir. E ninguém viu ou falou sobre isso. Apenas um senhor veio dizer que foi insultado e agredido, mas nem sequer sabe por quem”.

2-Quando, no dia 11 de Junho de 2009, o Real Madrid ofereceu ao Manchester United 93 milhões de euros pela transferência de Cristiano Ronaldo, ficou a saber-se que mais de 200 milhões de crianças continuavam a ser forçadas a trabalhar diariamente no Mundo.

3-O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, subscreveu afirmações das “gentes do mundo do futebol” de que se ultrapassaram os “limites razoáveis” na transferência de Cristiano Ronaldo para o Real Madrid.

4-Para Manuel Serrão, "o F. C. Porto e o futebol em geral têm feito mais pelo País que os nossos políticos, afirmando-o em África, no Brasil, na Colômbia, numa série de sítios onde se fez festa com as últimas conquistas".

5-Quando em Portugal a televisão transmite jogos de futebol, o que mais gosto de ver é as imagens dos ilustres protagonistas que, nos camarotes só reservados a gente importante, mostram como é que se agrada aos donos.

6-Quando no dia 4 de Outubro de 2010, o presidente do Futebol Clube do Porto disse em Olhão, Algarve, que “só os espíritos cretinos e obtusos pensam que receber um clube numa câmara é sinal de promiscuidade”, referia-se a um dos raros políticos lusos que nunca estiveram ao seu lado nesses camarotes: Rui Rio.

7-Cada vez mais os camarotes dos estádios dos grandes clubes de futebol são os lugares onde se vêem mais políticos por metro quadrado. Tenho dúvidas que todos esses políticos sejam adeptos do futebol e muito menos do desporto, mas o que importa é estar ao lado de um campeão. E consoante muda o campeão mudam-se os panegíricos. Portugal é mesmo assim.

8-Será um erro exigir que num jardim zoológico como cada vez mais é Portugal, cada macaco esteja no seu galho? Será um erro exigir que futebol seja futebol, que política seja política, que jornalismo seja jornalismo?

9-Entre um prato de lentilhas e a verdade, quase todos os jornalistas pensam com a barriga. Aliás, pensar com a barriga que alimenta um corpo sem coluna vertebral é mais de meio caminho andado. Para andar o outro meio basta ter cartão do partido… ou de um clube de futebol.

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