quinta-feira, janeiro 12, 2012

Stradivarius de lata, mas donos do país!

Ao que parece, e muito bem, a Agência Lusa vai acabar com a existência de uma secção autónoma de cultura. Num país que tem a dirigi-lo tantos analfabetos funcionais (sabem ler e escrever mas não lêem nem escrevem), a cultura é algo que não interessa.

Quanto à Lusa, recorde-se que o seu presidente, Afonso Camões, foi em Junho de 2010 à Comissão de Ética, Sociedade e Cultura do Parlamento português, a propósito do encerramento das delegações, dizer: "Não fechámos, mas vamos fechar. É assim que eu quero e é assim que vai ser".

E se é assim que eles querem, é assim que vai ser. Aliás, é prerrogativa própria dos donos de um estado esclavagista, mesmo que – como é o caso – queira parecer uma democracia e um Estado de Direito.

Embora o PS apareça agora como vítima, em matéria de cultura vê-se que é fuba do mesmo saco do PSD, se bem que a qualidade do seu fermento tenha sido, apesar de tudo, bem melhor.

A  vice-presidente da bancada socialista, Inês de Medeiros, diz que nesta matéria de cultura o governo tem “falta de visão”. Um claro exagero. Todos sabemos que o executivo de Miguel Relvas (há quem diga que também é de Passos Coelho) é completamente cego e que considera que a obra-prima do mestre e a prima do mestre obras são a mesma coisa.

Creio, aliás, que a presença de Francisco José Viegas como secretário de Estado da Cultura foi uma habilidosa (como tantas outras) forma de o governo contentar os que entendem a cultura como um bem essencial. Creio até que Miguel Relvas terá equacionado a possibilidade de pura e simplesmente mandar a cultura pela sanita abaixo.

Isso não impede que nos gabinetes do governo existam vários  “stradivarius”. Isto é: Eles julgam que são  “stradivarius” porque ninguém lhes disse que o violino apresentado  é, afinal, feito com latas de sardinha vindas do Paquistão, comprado a um chinês numa feira qualquer onde até se vende vestuário feito com restos de roupa dos hospitais portugueses.

"Infelizmente, [esta decisão da Agência Lusa], insere-se na lógica normal de desprestígio, desrespeito e falta de visão do Governo em relação a tudo aquilo que diga respeito às matérias culturais. É de lamentar e só podemos interrogar o primeiro-ministro, que na actual orgânica do Governo é o principal responsável pela área da Governo", afirmou Inês de Medeiros.

Não adianta perguntar, até porque a honorabilidade dos que perguntam, no caso o PS, deixa muito a desejar. Além disso, quando um país(?) tem o raro privilégio de ter cidadãos (socialistas, sociais-democratas e até democratas-cristãos) que são donos da verdade, a única solução é comer (cada vez menos)  e calar (cada vez mais).

Segundo a vice-presidente da bancada do PS, o panorama da comunicação social em relação ao tratamento de matérias culturais é já motivo de preocupação. Só em matérias culturais?

"Como todos sabemos, tirando honrosas excepções, muitos jornais deixaram de ter jornalistas especializados para as áreas culturais e a Agência Lusa tinha aqui um papel essencial. Até do ponto de vista da Agência Lusa, isto pode significar uma perda importante de clientes", apontou a deputada socialista.

Também aqui a deputada confunde a beira da estrada com a estrada da Beira. O problema está apenas no facto de os jornais terem pura e simplesmente deixado de ter jornalistas. E sendo assim, para os produtores de conteúdos vale tudo desde que, no fim do mês, sobre alguma coisa para ter um prato de lentilhas.

No Jornalismo que já não existe, se um jornalista – aprendia-se – não procurava saber o que se passava, era um imbecil. Se sabia o que se passava e se calava, era um criminoso. Sempre existiram, é verdade, imbecis e criminosos. Mas nunca, como agora, ser imbecil e criminoso é condição sine qua non para ser “jornalista” mas, sobretudo, para ser director, administrador, gestor, assessor, deputado ou membro do Governo.

Depois de vencer as eleições, Miguel Relvas (pela boca do seu ventríloquo Passos Coelho) recuperou uma regra de ouro dos socialistas: “é assim que eu quero e é assim que vai ser".

Por outras palavras, o poder quer que os jornalistas perguntem não o que o Estado/país/bordel pode fazer por eles, mas sim o que eles podem fazer pelo bordel/país/Estado.

E o que melhor podem fazer é aceitar que para pagarem ao merceeiro têm de ser criados do poder.

Se uma imprensa livre é um dos grandes pilares da democracia, a dita está, no reino lusitano de Miguel Relvas e companhia, coxa. Muito coxa. Até porque não baste dizer que existe democracia porque “é assim que eu quero e é assim que vai ser".

Em Portugal, na linha de José Sócrates, Miguel Relvas deu carácter não só legal como nobre ao facto de o servilismo ser regra para bons empregos, garantindo que esses servos vão estar depois a assessorar partidos, empresas ou políticos. Sempre, é claro, levando em conta que uma imprensa livre é um dos grandes pilares da democracia.

"A passagem cultura de Ministério para Secretaria de estado foi logo um sinal da menorização desta área, criando um desprestígio enorme. Todas as notícias que têm surgido - como o fim de apoios, cortes excessivos, desinvestimento, fecho da Livraria Camões no Rio de Janeiro -, contribuem para um enorme desprestígio das actividades culturais", considerou a deputada socialista.

Pois é. No entanto, verdade seja dita, nesta fase os escravos estão mais preocupados em alimentar a barriga do que o conhecimento. Além disso, quanto mais incultos forem melhor será para a casta superior que, com o beneplácito de um povo cobarde, faz tudo o que lhe apetece.

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