sábado, março 03, 2012

Os escravos portugueses não podem ficar calados, mesmo que isso lhes custe a vida

Os  portugueses que já estavam a aprender a viver sem comer vão, de uma vez por todas, morrer (não terão comida nem assistência médica).

Os que ainda dividiam uma sardinha por três vão começar a viver sem comer, substituindo os anteriores. O seu desaparecimento será daqui a alguns meses.

Quando atingir o desiderato, para além de poder culpar D. Afonso Henriques por ter corrido com os mouros e criado o reino lusitano,  os membros do governo sempre poderão colocar no túmulo dos portugueses desconhecidos uma lápide a dizer: Poucos continuam a ter milhões, milhões continuam a ter pouco ou nada…

"O Estado depende em absoluto da assistência externa" e estamos a viver um momento de "emergência nacional", vai declarando o embaixador alemão e primeiro-ministro de Portugal, só faltando dizer – e só não o fez por manifesta benevolência e filantropia – que a culpa é dos portugueses que teimam, embora já não saibam se têm barriga, em viver.

Passos Coelho diz que a terapia proposta é necessária porque, bem vistas as coisas, se o doente vai morrer da cura ou da doença, então que morra da doença porque dessa forma se evita gastar dinheiro em medicamentos.

"Temos agora fazer mais, muito mais, do que estava previsto", acrescenta o chefe do posto, negando a possibilidade de "abandonar" o caminho da austeridade, sob pena de sofrermos consequências que levariam o país ao colapso…

Importa realçar o optimismo do primeiro-ministro. Desde logo porque ele diz que acredita que este lugar tão mal frequentado é um país. Por outro porque ainda não descobriu que os portugueses estão mesmo no limite. Pouco falta para lhes saltar a tampa.

"Para contrariar o risco da deterioração económica, incluindo uma contracção profunda e prolongada do nosso produto e do nosso tecido empresarial, o Governo decidiu permitir a expansão do horário de trabalho no sector privado em meia hora por dia durante os próximos dois anos, e ajustar o calendário dos feriados", afirmou (recordam-se?) o embaixador.

Ora aí está um coelho (de peluche) retirado da cartola de plástico. A pedra filosofal foi descoberta. Está visto (nem José Sócrates se lembraria de tal) que a solução para todos os males de Portugal está em trabalhar mais, ganhar menos, em ter pior assistência médica e transportes, em reformar-se mais tarde (ou nunca), em ser despedido ao preço da chuva.

Mais uma vez  Pedro Passos Coelho exagerou nas palavras para dizer o que, afinal, poderia resumir numa só: escravatura…

Reconheço, contudo, que Pedro Passos Coelho continua a sua luta para colocar o seu país cada vez mais perto do norte… de África.

Se fosse possível fazer uma entrevista mais íntima a Passos Coelho, certamente que ele diria: “Durmo bem, como bem e o que restar no meu prato dou aos meus cães e não aos pobres”.

Em Portugal, para além dos milhões que legitimamente só se preocupam em encontrar alguma coisa para matar a fome, nem que seja nos restos deixados pelos cães de Passos Coelho, uma minoria privilegiada só se preocupa em ter – com a preciosa ajuda do Governo - mais e mais, custe o que custar.

Quando alguém diz isto, e são cada vez menos a dizê-lo mas cada vez mais a pensá-lo, corre o sério risco de que os donos do poder o mandem calar, se possível definitivamente.

Mas, como dizia a outro propósito Frei João Domingos, "não nos podemos calar mesmo que nos custe a vida".

O primeiro-ministro foi eleito. Mentiu à grande e conseguiu comer de cebolada os portugueses. Manda o bom senso que se pergunte: Como é possível aos cidadãos acreditar num governo em que o primeiro-ministro mente? Mas como o bom senso não enche barriga…

Adaptando de novo, e tantas vezes quantas forem preciso, Frei João Domingos, em Portugal "muitos governantes têm grandes carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente reluzentes mas estão podres por dentro".

Mas esses, apesar de podres por dentro, continuam a viver à grande e à PSD, enquanto o Povo se prepara para morrer de fome ou de falta de assistência médica. O tempo em que o mais importante era resolver os problemas do povo,  já lá vai. Os políticos anteriores preparam o cemitério  e Passos Coelho deu-lhe o golpe de misericórdia.

Tal como muitos dos políticos que passaram pelo reino lusitano, Passos Coelho continua a pensar que Portugal é o PSD (de vez em quando com a muleta do CDS) e que o PSD é Portugal.

E como pensa assim, o que sobra dos abundantes regabofes do Governo não vai para os escravos, mas sim para os rafeiros que gravitam sempre junto à manjedoura do poder.

E por que não vai para os pobres?, perguntam vocês, eu também, tal como os milhões que todos os dias passam fome. Não vai porque, tanto nas teses de Passos Coelho como nas de Cavaco Silva, não há pobres em Portugal.

Aliás, como é que poderia haver fome se (ainda) existe fartura de farelo? Se os porcos comem farelo e não morrem, também o Povo português pode comer.

Embora seja um exercício suicida, importa aos vivos não se calarem, continuando a denunciar as injustiças, para que Portugal possa novamente abolir o esclavagismo e, dessa forma, ser um dia um país diferente, eventualmente uma nação e quiçá até uma pátria.

O Povo sofre e passa fome. Os países valem, deveriam valer,  pelas pessoas e não pelos mercados, pelas finanças, pela corrupção, pelo compadrio, pelas negociatas.

É por tudo isto que a luta continua. Tem de continuar. Até porque, mais cedo ou mais tarde, a Primavera também vai iluminar as ruas de Lisboa e chegar ao resto do país.

Enquanto os escravos não se revoltarem, os políticos em geral e os deste Governo em particular vão continuar a vestir Hugo Boss ou Ermenegildo Zegna e comprar relógios de ouro Patek Phillipe e Rolex.

Enquanto os escravos vão continuar a ser gerados com fome, a nascer com fome e a morrer pouco depois com... fome, os políticos em geral e os deste Governo em particular vão continuar a ter à mesa trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, e várias garrafas de Château-Grillet 2005.

1 comentário:

voz a 0 db disse...

Caro Orlando, aceito tudo o que escreveu, a diferença está no apelido... Ao grupo a que o Orlando apelida POVO, eu apelido MANADA... Pois um Povo não se comporta desta forma... Uma MANADA sim...

E ainda bem que começo a ler cada vez mais a expressão ESCRAVOS afinal apenas confirma a minha noção de Civilização

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